Ciência
17/06/2018 às 06:00•2 min de leitura
É muito difícil não se impressionar com a história de um império que construiu pirâmides que se mantiveram em pé por 4,5 mil anos. Dentro existem inúmeras salas e, entre elas, tumbas onde membros da nobreza eram mumificados e sepultados, com o intuito de conservar os corpos para que pudessem ser utilizados novamente quando as almas voltassem do mundo dos mortos.
Um nobre precisa sempre ter suas riquezas por perto — mesmo depois de morto —, e esse costume sempre chamou a atenção de ladrões. Infelizmente, junto com as riquezas, eles levavam parte da rica história desse povo.
Felizmente, nem só saqueadores entravam em pirâmides, e em 1894 o arqueólogo francês Jacques de Morgan encontrou a estranha escultura de uma cabeça humana na Necrópole de Dahshur. Feita na época do faraó Snefru, que iniciou seu reinado em 2613 a.C., o objeto até hoje ainda instiga e inspira cientistas.
No total, 31 cabeças foram identificadas, sendo que 27 estavam dentro de tumbas nas Pirâmides de Gizé. Os artefatos foram encontrados em lugares reservados a aristocratas e membros da família real, incluindo a Princesa Meretites III. Todas eram feitas de calcário e possuíam uma parte plana na região do pescoço, que servia para que fossem apoiadas sem auxílio de acessórios. Elas foram esculpidas durante o Antigo Império do Egito, que compreendeu o período entre 2613 e 2181 a.C.
Algumas das cabeças foram pintadas na época de sua confecção, fato que só foi notado após análise química de resquícios de tinta vermelha. As feições eram suaves e, em alguns casos, personalizadas, provavelmente para manter características da pessoa. Outro aspecto em comum entre todas é que os cabelos sempre estavam raspados ou bem curtos.
Saques por diversos motivos espalharam as cabeças pelo mundo; porém, segundo Nicholas Picardo, diretor do Projeto Gizé de Harvard, os pesquisadores conseguiram identificar os locais originais das peças.
O motivo da existência das cabeças ainda gera muita discussão entre especialistas na área. Não era incomum a adulteração após o sepultamento, como resultado de problemas naturais ou mesmo roubos. Picardo acredita que as cabeças serviam como substitutos, ou reservas, para os mortos mumificados.
Um fator complicador é que algumas cabeças parecem ter sido mutiladas de maneira intencional, principalmente com a remoção das orelhas e a execução de um sulco que desce pela cabeça até a nuca. Para Peter Lacovara, diretor do Fundo de Patrimônio e Arqueologia do Antigo Egito, elas serviam como moldes ou referenciais para escultores, visto que foram encontrados resquícios de gesso.
Assim como o corpo mumificado que era colocado nas tumbas sob as pirâmides, Picardo acredita que as cabeças extras também tinham função após a morte. Como o local era sagrado, e acreditava-se em um poder divino agindo ali, da mesma forma que o corpo mumificado poderia receber novamente a alma da pessoa, algo semelhante poderia acontecer com as cabeças.
Uma cabeça consciente sem um corpo não deve gerar a melhor das sensações, então os danos eram feitos para que isso não acontecesse, segundo explica Picardo. Isso evitava que fosse necessário jogá-las fora. Independente do motivo de sua existência, hoje as peças são uma ótima maneira de nos mostrar as feições dos nobres da época.
Uma das cabeças, conhecida como Nefer/Nofer, está atualmente no Museu de Belas Artes de Boston, junto com outras sete diferentes. Para Picardo, essa é especial porque explicita exatamente como os escultores recriavam os mortos, diferente do que se imaginaria hoje.
Para os egípcios, era comum representar as pessoas da forma mais fiel possível, em vez de realizar modificações para que pequenos excessos fossem corrigidos. Pelo jeito, ao menos perante os Deuses, eles não se incomodavam com essas questões.
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