Ciência
13/03/2020 às 14:00•4 min de leitura
De 1993 a 1998, no vilarejo de Scole situado em Norfolk (Londres), uma equipe de médiuns de transe — integrada por Diana e Alan Bennett, e Robin e Sandra Foy — realizaram o que intitularam de "Experimento Scole".
Também chamado de Grupo Scole, pois admitiram vários assistentes para auxiliá-los durante os experimentos, o quarteto revolucionou a história do Espiritismo. Eles usaram a ectoplasmia (energia espiritual) para produzir objetos tangíveis no mundo da matéria, os quais estavam relacionados diretamente a tudo o que os nossos sentidos podem reconhecer: sons, toques, gostos e cheiros.
O objetivo do experimento não era produzir apenas um objeto tangível, mas uma série deles com todos os tipos e as formas. A finalidade era que isso fosse avaliado pelos cientistas. Na história da Parapsicologia e na do Espiritismo, os fenômenos são amplamente estudados pelas doutrinas; considerando isso, o Experimento Scole está entre um dos estudos mais perturbadores e controversos já realizados no campo.
O experimento era realizado na escuridão total, por isso, quando começou a ganhar notoriedade, espalhar-se pela mídia e sociedade, teve a sua veracidade contestada diversas vezes. Porém, isso não durou muito tempo. Nele, os membros do grupo ficavam sentados a uma mesa ou em círculo, e os espíritos dos desencarnados entravam em contato com os médiuns durante um período de transe, no qual eles perdiam quase toda a consciência do ambiente ao redor.
Ao longo de aproximadamente 500 sessões quinzenais durante 5 anos, o quarteto produziu mais de 100 tipos diferentes de manifestações espirituais, como o transporte de objetos, a fabricação destes (chamado de aportes), levitações, passos, batidas, poesias mediúnicas e materializações. Por meio de recursos de gravação — como a Transcomunicação Instrumental —, houve a captação de aparições pelo espaço, vozes, barulho de sinos e desenhos estranhos gravados em rolos de filme que não haviam sido abertos, tampouco processados.
Um guia espiritual se apresentou como Manu e disse ser o líder dos espíritos de uma das sessões realizadas. Ele confessou que tivera várias encarnações na Terra, a mais recente teria sido na América do Norte, reencarnando em um homem chamado John Paxton, no século XIII. O espírito explicou que trabalhava com energias consideradas mais seguras no plano imaterial, compostas por forças humanas e espirituais.
Em certa ocasião, uma quantidade de água foi derramada nos médiuns, marcas de mãos apareceram em suas roupas (como se tivessem sido impressas no tecido), assim como símbolos e outras formas geométricas desconhecidas. Perante uma pequena plateia, uma luz disparou através do porão em completo breu, atravessando um cristal e deixando-o iluminado por muito tempo, apesar de ter desaparecido logo em seguida.
Os espíritos instruíram os médiuns a tentar um experimento fotógrafico, batendo fotos com uma câmera convencional sob o comando deles enquanto luzes insólitas dançavam pelo ar. Um dos aparelhos disparou sozinho e produziu uma foto que mostrava a catedral de São Paulo durante o bombardeio da Segunda Guerra Mundial. Em outra fotografia, aparecia a primeira página do jornal Daily Mirror, datado de antes da Guerra.
Apenas em Scole, quase mil pessoas se juntaram ao grupo de médiuns naquela casa para assistir aos eventos paranormais. No entanto, acredita-se que o número pode ter sido ainda maior, pois o grupo levou as suas sessões experimentais a muitos lugares ao redor do mundo. O trabalho chegou a ser apresentado na Alemanha, na Holanda, em Ibiza, na Irlanda, na Suíça e nos Estados Unidos.
O estudo atraiu vários engenheiros eletricistas, astrofísicos, criminologistas, psicólogos e matemáticos que desejavam examinar os rolos de filmes fotográficos a fim de se certificarem de que nada estava sendo controlado. Alguns deles também pediram para participar dos experiementos e controlá-los por meio de seus instrumentos, dentro dos parâmetros específicos de cada área.
Três cientistas treinados pela renomada Sociedade de Pesquisa Psíquica participaram de 20 sessões com o objetivo de investigar o fenômeno e dar o seu aval para o mundo. Eles levaram material própio e trancaram-no em uma caixa com cadeado — o que não impediu de aparecer imagens nos filmes, da mesma forma como aconteceu com os outros escrutinadores do caso. No entanto, em vez de fotos de rostos e lugares, mensagens enigmáticas surgiram por todo o rolo de filme. Com centenas de outros eventos gravados em áudio e vídeo, os estudiosos escreveram que não conseguiam explicar qualquer um dos eventos. Eles concluíram que não havia nenhum tipo de tramoia feita pelo grupo.
Ainda assim, durante 2 anos, os investigadores seguiram os médiuns aonde quer que eles fossem, para tentar provar que algo naquilo era fraudado. Contudo, para a surpresa deles, os especialistas encontraram apenas evidências que corroboravam a existência de forças desencarnadas, espiritualmente inteligentes ou oriundas da psique humana, as quais podiam influenciar objetos e materiais, bem como transmitir mensagens visuais e auditivas.
Em novembro de 1998, o grupo se dissolveu após uma sessão na qual os espíritos comunicaram que o experimento Scole precisava acabar. A falta de qualquer indício de fraude tornou o experimento uma das provas mais contundentes da existência de espíritos, de forças espirituais e de vida após a morte.
Tudo o que aconteceu durante as 500 sessões no período de 5 anos foi armazenado no registro conhecido como Relatório Scole. Assim que a pesquisa foi encerrada, as mentes mais céticas e também contestadoras promoveram uma revisão de tudo o que havia sido documentado. Descobriram várias falhas que, para muitos, colocava em cheque tudo o que havia acontecido.
Os investigadores da época que foram testar a veracidade dos eventos teriam colocado pouco ou talvez nenhum controle durante o experimento. Por outro lado, esses teriam concordado com todas as restrições impostas pela equipe do grupo. Os médiuns pareciam ter o controle do experimento no final das contas. Os críticos deixaram claro que esses impedimentos afetaram várias interpretações razoáveis, explicitamente inviabilizando qualquer investigação científica dos fenômenos.
Como prova de que eles não interferiam no experimento, os mebros da equipe usavam pulseiras luminosas para provar que não se moviam, tampouco manipulavam nada no local. Porém, as pulseiras eram fabricadas pela própria equipe e nunca foram submetidas a testes laboratoriais, o que foi considerado uma negligência grosseira por parte dos investigadores.
O surgimento de imagens em rolos de filmes selados de fábrica também foi contestado. No decorrer das sessões, os cartuchos ficavam dentro de caixas que eram trancadas com um cadeado. Foi durante a estrita supervisão dos investigadores que os assistentes removeram os rolos de filmes retirados e avaliados pelos médiuns e espectadores. Isso aconteceu várias vezes. Porém, Alan Gauld, um dos investigadores, disse que a caixa podia ser aberta rápida e facilmente no escuro, visto que eles não viam quando ela era colocada sobre a mesa. Além disso, sempre que outro recipiente era utilizado no experimento para armazenar os cartuchos nada acontecia a ele nem imagem alguma surgia nos filmes.
A maioria das sessões aconteceu no porão da casa dos Foy, em um intervalo longo, cerca de 2 vezes por mês. De acordo com os críticos, isso poderia ter facilitado a manipulação do ambiente por parte dos médiuns, apesar de nenhuma evidência comprovar isso.
As provas de que tudo aconteceu são únicas, mas sendo fornecidas somente pelos criadores do Experimento Scole. Porém, a veracidade dos fatos presente em cada linha do relatório da equipe acabou sendo contaminada por dúvidas não solucionadas e que ainda continuam existindo.