O controverso e enganador caso de Jeannette DePalma

16/03/2021 às 12:004 min de leitura

Nascida em 3 de agosto de 1956, Jeannette DePalma morava em uma casa de classe média na cidade de Springfield, em Nova Jersey (EUA). A família dela poderia ser considerada o típico “exemplo americano”, principalmente por ser muito conectada com os valores cristãos.

A vizinhança e a comunidade conhecia muito bem os DePalma, tanto que não hesitaram em declarar que Jeannette era uma boa jovem, mas que estava começando a se “rebelar” por completar 16 anos e, supostamente, a deixar de lado a sua "conduta moral de boa cristã".

Em 7 de agosto de 1972, a jovem DePalma avisou a mãe que viajaria de trem até a casa de uma amiga, entretanto ela nunca chegou lá, tampouco voltou para casa. Desesperados, na manhã do dia seguinte, os pais da menina preencheram um formulário de pessoa desaparecida no Departamento de Polícia de Springfield.

Dentes do Diabo

(Fonte: MyCentralJersey/Reprodução)(Fonte: MyCentralJersey/Reprodução)

Apesar dos esforços da polícia e das orações da família, DePalma só foi encontrada em 19 de setembro daquele ano por uma mulher que passeava com o seu cachorro perto da pedreira de Houdaille, popularmente conhecida como "Dentes do Diabo". O cão farejou algo e disparou até o topo do penhasco, voltando com um antebraço direito em decomposição na boca.

A polícia foi chamada até o local e um cerco reforçado foi criado ao redor do cadáver da jovem. De acordo com os policiais, o corpo estava deitado de bruços e com o braço esquerdo repousado sob a cabeça, cercado por cruzes improvisadas e por toras de madeira que faziam alusão a um caixão. Entretanto, ao longo dos anos, esse primeiro avistamento do cadáver foi contaminado por rumores, "requentado" e "enfeitado" em tantas partes devido à repercussão do caso, que se tornou praticamente impossível determinar a real natureza da cena do crime.

(Fonte: NJ/Reprodução)(Fonte: NJ/Reprodução)

O jornal nova-iorquino Star-Ledger foi o responsável por sustentar manchetes do tipo “Menina sacrificada em ritual de bruxaria?” e informar que haviam “símbolos ocultistas cercando seu corpo”. A declaração da polícia para os tabloides de como DePalma foi encontrada não combinava com o relatório do médico legista, que descreveu apenas "uma formação rochosa ao redor do corpo", sem toras de madeira ou formato de caixão. 

Ainda assim, o público que acompanhava a história estava em estado de aturdimento, principalmente porque a própria polícia alimentava os rumores levando bruxas para inspecionar a pedreira à procura de algum rastro satanista.

O circo

(Fonte: HorrorBuzz/Reprodução)(Fonte: HorrorBuzz/Reprodução)

A autópsia de Jeannette DePalma não apontou marcas de facadas, feridas de bala, contusões ou qualquer outro tipo de violência. Por razões não esclarecidas, a causa da morte foi descrita como estrangulamento, ainda que as informações anteriores não sustentassem esse laudo. O exame toxicológico não apresentou nenhum tipo de drogas no organismo da jovem, mas indicou um nível alto de chumbo. De qualquer forma, nada foi investigado, e as evidências permaneceram flutuantes no caso.

Isso foi o suficiente para que a Promotoria do Condado de Union encarasse o caso como um homicídio. A polícia de Springfield trabalhou, principalmente, a partir de denúncias e possíveis pistas para encontrar o criminoso. O início da investigação foi toda atrás de um homem que morava em um acampamento na floresta próximo da pedreira e que era conhecido pelas pessoas pelo apelido de “Red”. Ele desapareceu logo depois que o corpo de DePalma foi encontrado, porém a promotoria decidiu que o homem não tinha nenhuma relação com a morte da jovem.

(Fonte: The Sun/Reprodução)(Fonte: The Sun/Reprodução)

Depois disso, a busca pelo culpado se perdeu em meio a um turbilhão de pistas falsas, depoimentos inconsistentes da família, amigos, conhecidos e, principalmente, pelo crescente “pânico satânico” que devastou a vida dos norte-americanos entre as décadas de 1960 e 1990.

Enquanto o caso esfriava na gaveta do condado, a família precisava conviver tanto com o mistério do que aconteceu com a garota DePalma quanto com as teorias. Foi sugerido, por exemplo, que a jovem teve uma overdose naquela noite, visto que estava se tornando uma “rebelde”, e suas amigas abandonaram o corpo dela na pedreira. Especularam também que DePalma poderia ter incitado alguma pessoa e causado o próprio assassinato, seja por não ter retribuído um flerte, seja por tê-lo feito sem ter tido a intenção de continuar.

A reviravolta

(Fonte: NJ/Reprodução)(Fonte: NJ/Reprodução)

A polícia jamais solucionou o que aconteceu com Jeannette DePalma quando ela saiu naquela manhã de 7 de agosto de 1972. O caso se enraizou de tal maneira na sociedade de Springfield, que Ed Salzano, na época com apenas 10 anos, cresceu e se tornou um advogado apenas para acabar com esse mistério. No entanto, ele enfrentou muitas barreiras jurídicas, todas erguidas pela Promotoria do Condado de Union, que não queria que ele tivesse acesso a nada.

Em 2004, os editores da revista Weird NJ iniciaram uma investigação para determinar o que de fato aconteceu nesse caso, com Mark Moran e Jesse P. Pollack escrevendo o livro DePalma, Morte nos Dentes do Diabo. Eles sofreram grande resistência da polícia local, a qual disse que os arquivos e evidências haviam sido destruídos durante a enchente do Furacão Floyd em 1999, recusando-se a prestar qualquer tipo de depoimento — mas os policiais estavam mentindo.

(Fonte: MyCentralJersey/Reprodução)(Fonte: MyCentralJersey/Reprodução)

Em 2019, a revista conseguiu cópias do caso em um arquivo do Gabinete da Promotoria do Condado de Union por meio da Lei de Liberdade de Informação, inclusive fotos da cena do crime que foram declaradas como “desaparecidas”. A Weird NJ expôs que nunca houve nada de oculto envolvendo o corpo da jovem, afirmando que o objeto mais semelhante a uma cruz eram galhos de árvores retorcidos.

Fora isso, há evidências nunca divulgadas de que DePalma foi vista pegando uma carona em vez do trem no dia de sua morte, assim como o conteúdo da bolsa dela espalhada a cerca de 2,5 metros do seu corpo, ou seja, o objeto não estava na cena do crime nem a sua carteira.

No final das contas, o maior mistério do caso se tornou o motivo de a polícia de Springfield ter inventado tantas mentiras sobre a cena do crime e todos os arquivos envolvidos. Por que eles querem tanto manter a história de Jeannette DePalma enterrada?

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