Ciência
17/08/2022 às 08:00•2 min de leitura
De julho a setembro de 1518, durante o Sacro Império Romano, mais de 400 habitantes de Estrasburgo, Alsácia, foram arrebatadas pela “praga da dança”, uma espécie de histeria coletiva incontrolável que fazia as pessoas dançarem sem parar.
Estima-se que mais de 100 pessoas tenham morrido até a epidemia simplesmente acabar, algumas de exaustão, outras de fome ou alguma lesão grave. O bizarro e mortal evento ainda é um dos maiores mistérios científicos, após mais de 500 anos, exatamente porque ninguém consegue desvendar o motivo.
Em 31 de janeiro de 1962, um trio de garotas estava na hora do recreio em uma escola no antigo estado de Tanganica, uma vila tanzaniana de Kashasha, quando começaram a rir sem parar.
(Fonte: Arabia Weather/Reprodução)
O que começou com três garotas, rapidamente afetou as 95 meninas do internato de 159 alunas, com idades entre 12 e 18 anos, até que alcançou mais de 1 mil pessoas, incluindo os pais dos alunos, se espalhando pela região de Tanganica e causando o fechamento temporário de 14 escolas.
O ataque de risos durou entre 6 horas a duas semanas, se tornando ainda mais perturbador à medida que o tempo passava e as pessoas tentavam entender o que estava acontecendo. As vítimas da epidemia do riso começaram a manifestar tontura, problemas respiratórios, ataques de grito, choro incontrolável, erupções cutâneas, inquietação, flatulência extrema e descontrole físico.
(Fonte: Naked History/Reprodução)
O riso descontrolado provocou o desespero e terminou em violência. Incapazes de explicar o que estavam sentindo, as pessoas começaram a atacar os demais, desesperadas em tentar se fazer ouvir, mas frustrados por não conseguirem emitir nada além de risadas.
Pouco mais de 1 ano após os relatos iniciais da epidemia do riso, os casos desapareceram tão misteriosamente quanto surgiram, e tudo voltou ao normal.
(Fonte: Listen Notes/Reprodução)
Segundo o sociólogo e médico americano Robert Bartholomew, citado em uma matéria da BBC, casos de doença psicogênica de massa, mais conhecida como histeria coletiva, trata-se de uma reação ao estresse que leva uma superestimulação do sistema nervoso. “Pense nisso como um problema de software”, disse ele.
O riso induzido pela ansiedade de uma estudante desencadeou um efeito em massa, engolindo as pessoas que se aproximavam da cena. A razão por trás da histeria em massa é pouco compreendida e não está listada no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.
No caso de Tanganica, o riso, que também pode demonstrar angústia, estimulado pela raiva ou tristeza, pode ter motivado o estresse crônico pelo qual a população sofria. O pesquisador Christian Hempelmann, da Texas A&M Unviersity, descreveu que o incidente ocupa um caso de doença psicogênica ou sociogênica em massa muito comum em uma variedade de ambientes de alto estresse.
No final das contas, acredita-se que as garotas possam ter reagido inconscientemente às expectativas repletas de incertezas impostas pela administração britânica da escola e sobre a independência da região, que aconteceu apenas um mês após o fenômeno em massa.