Ciência
23/09/2023 às 09:00•2 min de leitura
Em 1994, um bando de caminhantes acabou descobrindo um grupo de árvores estranhas crescendo em um desfiladeiro no Parque Nacional Wollecim, a cerca de 100 km de distância de Sydney, na Austrália. Um naturalista do parque foi notificado sobre o caso, posteriormente mostrando espécimes de folhas a um botânico.
Após estudos mais aprofundados, pesquisadores descobriram que a planta em questão se tratava de uma espécie antiga que estava essencialmente congelada no tempo desde a época em que os dinossauros vagam pela Terra. O pinheiro Wollemi (Wollemia nobilis) foi apelidado de "fóssil vivo" pelos estudiosos e permanece geneticamente quase idêntico há 66 milhões de anos.
(Fonte: Getty Images)
De acordo com os pesquisadores que trabalharam no caso, existem agora apenas 60 destas árvores na natureza. As sobreviventes, por sua vez, estão ameaçadas pelos incêndios florestais na região australiana. Antes do espécime ter sido descoberto, em 1994, acreditava-se que o pinheiro Wollemi estava extinto há 2 milhões de anos.
Agora, cientistas da Austrália, Estados Unidos e Itália estão decodificando o genoma da árvore para entender mais sobre sua evolução e seus hábitos reprodutivos únicos, bem como tentando saber quais esforços precisarão ser feitos para ajudar na conservação da espécie.
Segundo os dados obtidos recentemente, o pinheiro tem 26 cromossomos, os quais contém impressionantes 12,2 bilhões pares de bases — em comparação, os humanos possuem apenas 3 bilhões de pares de bases. Apesar do tamanho do seu genoma, os primeiros Wollemi têm uma diversidade genética extremamente baixa, sugerindo uma redução drástica de sua população por volta de 10 mil a 26 mil anos atrás.
(Fonte: Getty Images)
Conforme foi descoberto pelos pesquisadores, os pinheiros Wollemi não costumam trocar muito material genético. De modo geral, essas árvores restantes parecem se reproduzir principalmente por meio de clonagem talhadia — em que rebentos emergem da base e se tornam novas árvores.
A raridade da espécie pode ser por culpa do número elevado de transposões em sua composição, que nada mais são do que "genes saltadores". Esses trechos de DNA podem mudar sua posição dentro do genoma, alterando a sequência de "letras" em uma molécula. Por sua vez, isso causa ou reverte mutações genéticas.
Caso os transposões tenham induzido mutações prejudiciais, isso pode ter contribuído para o declínio populacional precipitado pelas mudanças climáticas e outros fatores. Essas condições estressantes, acreditam os pesquisadores, podem ter levado a planta a mudar para a reprodução clonal. Paradoxalmente, embora as árvores ainda dependessem da reprodução sexuada para se expandirem, os transposões podem também ter desempenhado um papel, ao menos temporariamente, importante para torná-las mais resistentes às mudanças sofridas pelo planeta.
Embora apenas quatro pequenas populações de pinheiro Wollemi permaneçam na natureza, essas árvores têm sido amplamente propagadas por jardins botânicos e outras instituições num esforço para conservá-las. Assim, o estudo do genoma dessa espécie não é algo apenas curioso, mas que pode garantir a sobrevivência dessas plantas.