Ciência
04/08/2024 às 20:00•3 min de leituraAtualizado em 04/08/2024 às 20:00
Um dos crimes mais hediondos da história da Coreia do Sul, e talvez do mundo, começou em um feriado festivo, no dia 26 de março de 1991. Era dia de eleições locais, as primeiras realizadas desde a ditadura militar. Aproveitando o feriado escolar na Escola Primária Seongseo, as cinco crianças saíram para pegar sapos nos riachos do Monte Wayong.
Mas à noitinha, os amigos U Cheol-won, de 13 anos; Jo Ho-yeon, 12; Kim Yeong-gyu; 11, Park Chan-in, 10; e Kim Jong-sik, de 9, ainda não haviam retornado para suas casas, onde os pais, preocupados, começaram a procurá-los. Como não acharam vestígios dos filhos, procuraram ajuda da polícia.
Segundo o jornal Korea JoongAng Daily, o presidente da transição democrática, Roh Tae-woo, ordenou uma busca maciça com uma força policial de 300 mil soldados, após a participação das famílias em um programa de notícias que causou comoção nacional. Foi realizada uma varredura em reservatórios, canais de irrigação, terminais de ônibus e estações de trem.
No entanto, a morosidade nas investigações, a burocracia e a má vontade da polícia fizeram com que diversas escolas empresas e organizações civis fizessem doações, que chegaram a 42 milhões de wons (quase R$ 200 mil) de recompensa a quem pudesse revelar o paradeiro dos meninos-sapo.
No entanto, nenhuma das ações civis ou policiais teve sucesso: as crianças não apareceram e o calvário dos pais só aumentava, depois que notícias falsas começaram a pipocar, dizendo ora que se tratava de um múltiplo assassinato por uma “pessoa com doença mental”, ora acusando o pai de Jong-sik, Kim Cheol-gyu, de ter cometido os assassinatos e enterrado os corpos no quintal de sua casa.
Cansado, com ódio e desesperado por mais uma teoria ridícula, Kim morreu de câncer cinco anos depois. Um ano depois, no dia 26 de setembro de 2002, os restos mortais dos meninos foram encontrados por um catador de bolotas (semelhantes a nozes) na própria montanha onde as crianças haviam desaparecida há 11 anos. Estavam entrelaçados e enterrados a apenas dois quilômetros de suas casas.
Em mais uma manobra desastrada, a polícia chamou o cientista forense Chae Jong-min, professor da Universidade Kyungbook, mas, antes que o especialista chegasse, desenterrou os ossos das crianças de qualquer maneira, alterando a cena do crime. Quando chegou ao local, o perito criminal chamou a investigação de "situação absurda".
Antes que o laudo pericial fosse liberado, a polícia afirmou que não havia encontrado indícios de homicídio e que as crianças haviam morrido provavelmente congeladas. Mas a tese da equipe de medicina forense apontou em sentido diverso: as crianças haviam sido, na verdade, assassinadas.
Segundo o relatório divulgado, “Encontramos marcas em três dos cinco crânios que pareciam ter sido criadas por golpes com objetos de metal, possivelmente uma ferramenta de algum tipo”. Na época, a 50ª Divisão de Infantaria confirmou que as balas encontradas com os corpos pertenciam ao seu campo de tiro, próximo à casa das crianças.
A equipe da Universidade Kyungbook suspeita que os assassinatos não tenham sido premeditados, mas sim porque o assassino, possivelmente um militar comissionado que havia ido ao estande de tiro no feriado, atingiu por acidente uma das crianças. Furioso, ele teria eliminado todas as testemunhas.
No entanto, essa tese não pôde ser inteiramente confirmada porque a equipe forense teve que desconsiderar os ossos desenterrados equivocadamente pela polícia. “Uma criança teve suas roupas viradas do avesso, o que pode significar que o culpado cobriu os olhos com as roupas e então... assassinou as crianças batendo em suas cabeças com algum tipo de arma”, presume Chae.
Embora o caso dos meninos-sapo continue inconcluso até hoje, o chamado estatuto de limitações para assassinatos, que limitava o tempo para processar eventuais culpados em 15 anos, foi revogado, o que significa que o surgimento de qualquer evidência nova pode levar a polícia a reabrir o caso.