Ciência
25/03/2019 às 05:16•4 min de leitura
Ao contrário do que muita gente pensa, embora tenha sido Rainha do Egito, Cleópatra (VII, caso você não saiba) não era egípcia, mas sim de origem grega. As raízes de sua família podem ser traçadas até Ptolomeu I Sóter, general de Alexandre, o Grande, que se tornou sátrapa — ou governador — do Egito após a morte do líder macedônio e foi o fundador da Dinastia Ptolomaica, à qual “Cléo” pertencia.
Essa dinastia, aliás, durou quase três séculos e deu origem a uma longa linhagem de monarcas gregos à frente do Egito Antigo. Entretanto, apesar de Cleópatra não ser egípcia, ela adotou muitos costumes locais e foi a primeira de sua estirpe a aprender o idioma egípcio.
Embora Cleópatra tenha conquistado nada menos do que os célebres generais romanos Júlio César e Marco Antônio e tenha sido retratada no cinema como uma mulher estonteante, dizem que a beleza não era o melhor de seus atributos. Pelo menos é a essa conclusão a que chegamos ao admirar uma das moedas romanas que trazem sua imagem estampada ou um busto de mármore que hoje se encontra no Altes Museum de Berlim. Confira:
Na verdade, a lenda de que ela era bela pode ser culpa dos próprios romanos, que espalhavam fofocas de que ela era uma sedutora descontrolada que usava o sexo como arma política. Contudo, vale lembrar que a atração é algo extremamente subjetivo e, no caso de Cleópatra, uma de suas qualidades mais irresistíveis certamente era a sua inteligência e cultura.
Moedas romanas cunhadas com o perfil de Cleópatra
A Rainha foi educada em Alexandria, um dos maiores centros intelectuais da Antiguidade, e era versada em matemática, astronomia, filosofia e oratória. Cleópatra também era fluente em pelo menos 12 idiomas, guardava grande respeito pelos eruditos de sua época e gostava de estar em sua companhia.
Não é nenhum segredo que, quando o assunto era o casamento, muitos membros das linhagens reais egípcias mantinham as coisas em família com o propósito de preservar a pureza de seu sangue real. A dinastia ptolomaica não foi diferente, e as uniões entre primos, irmãos e até pais e filhos eram bastante comuns.
No caso de Cleópatra, ela era filha de Ptolomeu XII com (possivelmente) Cleópatra V — que era irmã dele, e Cleópatra (a VII) seguiu a tradição familiar. Ela se casou com seus dois irmãos, primeiro com Ptolomeu XIII, entre os anos de 51 e 47 a.C., e depois com Ptolomeu XIV, entre 47 e 44 a.C., que atuaram como seus corregentes até ela se livrar deles.
Conforme mencionamos no item 2 desta lista, Cleópatra e Ptolomeu XIII deveriam reinar juntos, mas ela, muito ambiciosa, tentou chutá-lo do trono e governar sozinha. A animosidade entre os dois acabou com Cleópatra fugindo para a Síria e organizando um exército para derrotar o irmão.
Por volta da mesma época, Júlio César e Pompeu estavam na maior briga em Roma. Então, Pompeu buscou exílio no Egito, foi assassinado a mando de Ptolomeu, mas Júlio César acabou indo atrás de seu inimigo mesmo assim. O fato é que Cleópatra e Júlio César acabaram se esbarrando no Egito e formando uma parceria para derrubar Ptolomeu do trono. Ela venceu, e o irmão morreu afogado no Nilo enquanto tentava fugir.
Foi no meio desse rebuliço todo que Cleópatra e Júlio César se tornaram amantes — e ela supostamente teve Ptolomeu XV César, o filho dos dois também conhecido como Cesarion. Mas, ainda seguindo a tradição familiar, Cleópatra se casou com Ptolomeu XIV, seu outro irmão, e se livrou dele também. Aliás, ela também teria mandado dar fim em sua irmã Arsinoe, que a rainha via como uma ameaça ao trono.
Só a título de curiosidade, Cleópatra chegou a passar uma temporada em Roma com Júlio César, e o relacionamento dos dois foi considerado um escândalo. Foi durante essa estadia que ela conheceu Marco Antônio, e Cleópatra se encontrava na capital do império romano quando Júlio César foi assassinado no senado e teve que fugir às pressas para o Egito depois do atentado.
Cleópatra assumiu o trono do Egito com seu filho como corregente e enfrentou uma série de percalços econômicos decorrentes de problemas com as enchentes do Nilo — que resultaram em perdas nos cultivos, inflação e fome. Ao mesmo tempo, em Roma, a confusão corria solta entre o Segundo Triunvirato, composto por Marco Antônio, Lépido e Otávio, aliados de Júlio César, e seus assassinos, Brutus e Cássio, para ver quem assumiria o poder.
As duas partes pediram o apoio de Cleópatra, ela ficou do lado do triunvirato, o trio saiu vencedor da contenda, e Marco Antônio acabou indo se encontrar com a rainha egípcia para investigar seu envolvimento no assassinato de Júlio César. Como você sabe, o general romano — que era casado — se apaixonou por Cleópatra, e ela tirou proveito disso para convencê-lo a proteger o Egito.
Marco Antônio passou o inverno de 41 e 40 a.C. em Alexandria com Cleópatra, e dizem que nesse período os dois teriam fundado uma sociedade chamada “A Vida Inimitável”, onde os membros deveriam surpreender os demais com prazeres inéditos. No fim, Marco Antônio voltou a Roma, ficou viúvo e, depois de muitas idas e vindas — e da chegada de três filhos do casal, os gêmeos Alexandre Hélios e Cleópatra Selene, e Ptolomeu Filadelfo —, o romano abandonou tudo para ficar com Cleópatra.
Só que isso enfureceu o pessoal em Roma, já que, além de devolver vários territórios ao Egito em troca do apoio político e financeiro da rainha egípcia, Marco Antônio abandonou sua nova esposa — meia-irmã de seu aliado Otávio — por causa de Cleópatra. Otávio declarou guerra ao Egito, e suas forças estavam massacrando as forças egípcias. Então, quando Alexandria se encontrava sob o ataque do exército romano, dizem que Marco Antônio ouviu rumores de que sua amante havia cometido suicídio.
Marco Antônio caiu sobre sua espada antes de saber que Cleópatra estava viva, e a rainha derrotada, depois de se reunir com o vencedor Otávio, teria se fechado em seus aposentos com duas servas e tirado a própria vida. Ninguém sabe com certeza qual foi o método escolhido por ela, mas, segundo os relatos de Plutarco e outros historiadores, Cleópatra teria usado uma cobra venenosa conhecida como “asp”, tida como símbolo da realeza egípcia.