
Ciência
16/12/2022 às 13:00•2 min de leitura
Uma das características dos séculos XIX e XX foi o caráter rudimentar da ciência e medicina, e seu processo de redescobertas de coisas que hoje são consideradas até crime. Entre as décadas de 1930 e 1940, por exemplo, as propagandas de cigarros declaravam que fumar era benéfico e poderia até melhorar uma irritação na garganta.
Em 1890, problemas relacionadas à constipação, acne, fadiga, anemia, flatulência e, principalmente, doenças mentais poderiam ser tratadas por meio de dilatação retal.
Um editorial do Medical News de 1893 observou que o médico Dr. Young elogiou a prática, alegando que pelo menos 3/4 de todos os maníacos do mundo eram curados em apenas algumas semanas ao receberem tratamento com dilatadores retais.
(Fonte: Vintage Everyday/Reprodução)
O “remédio” criado pelo médico de Chicago, chamado de "Os dilatadores retais do Dr. Young", foi considerado por ele mesmo tão revolucionário para "curar de problemas comuns do dia a dia até às doenças mais complexas" que poderia ser autoadministrado, facilitando a vida do consumidor.
Apesar da facilidade, os dilatadores retais eram mais doloridos do que um supositório de glicerina, pois eram objetos feitos de borracha bem dura na forma de um torpedo, com direito a um grande bulbo em uma das extremidades. O consumidor deveria inseri-lo no ânus até a base, como se fosse um plugue anal.
No manual de instrução que acompanhava os dilatadores, Young recomendava a lubrificação do produto com sabão e que o mantivesse no reto por pelo menos 1 hora, muito embora fosse mais eficaz se a pessoa dormisse com ele. Imaginando que o dilatador fosse causar repulsa e pânico nas pessoas, o médico aconselhou que os clientes usassem o tamanho mais adequado a sua condição, progredindo de acordo com seu uso e conforto.
(Fonte: Vintage Everyday/Reprodução)
Enganado está quem pensou que as pessoas virariam a cara para a invenção bizarra do médico. Muito pelo contrário, a aderência do produto foi massiva. Por mais de 40 anos, os dilatadores foram comercializados como cura imediata e contínua como se fosse algum tipo de comprimido.
Tal como os anúncios do meio do século XX sobre os benefícios equivocados de fumar, vários depoimentos brilhantes de clientes satisfeitos, como o reverendo Hezekiah Cook, estamparam os anúncios de venda dos dilatadores retais. Um homem identificado como Sr. Loughborough disse que "inserir um dilatador por 1 hora diariamente o deixou saudável", e que dinheiro nenhum o faria vender ou devolver seu produto — afinal, a confiança de Young sobre a eficácia do dilatador foi tanta que ele ofereceu uma garantia de 100% do dinheiro de volta para qualquer produto devolvido.
Foi em meio à Segunda Guerra Mundial, bem em 1940, que o Food and Drug Administration (FDA) colocou um freio na comercialização do produto alegando que ele não estava rotulado corretamente, implicando em sua eficácia e no tratamento. Depois, a agência também ressaltou que os dilatadores ofereciam perigo à saúde se utilizados com a frequência e duração prescritas.
Young até tentou se defender diante às acusações, porém acabou falhando, e seu produto revolucionário foi banido indefinidamente, encerrando um ciclo de 40 anos de glória.