Mecanismo libera insulina no corpo ao ouvirmos música

03/09/2023 às 14:002 min de leitura

Atualmente, estima-se que quase 10% da população global possui algum tipo de diabetes. Para poder conviver com a doença — que ainda não possui cura —, além de hábitos saudáveis, é necessário que os pacientes precisem de um suprimento externo da insulina (via comprimido ou injeção), para manter a glicose no sangue em níveis adequados.

Mas e se fosse possível criar um mecanismo que eliminasse essa necessidade de compensar a insulina no nosso corpo sem depender de medicamentos? É isso que Martin Fussenegger, do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, na Suíça, e sua equipe estão tentando desenvolver. 

Há alguns anos, eles criaram uma cápsula com células programadas para produzir insulina que pode ser implantada no corpo. O problema é que essa cápsula precisa de um estímulo para que a insulina seja liberada no momento correto — no organismo de uma pessoa sem diabetes, isso ocorre naturalmente durante uma refeição.

Foram testados uma série de gatilhos (luz, temperatura e campos elétricos), mas a atual fase da pesquisa está focada em ondas sonoras. E o mais curioso é que, segundo Fussenegger, o som mais eficiente foi um clássico da banda inglesa Queen: "We Will Rock You".

Células roqueiras

(Fonte: GettyImages)(Fonte: GettyImages)

O processo para usar a música como gatilho para a liberação de insulina começou com uma busca por uma proteína que consiga responder a estímulos mecânicos. Tendo encontrado a proteína correta, foi a vez de descobrir qual era a frequência ideal para estimular a proteína. Eles verificaram que níveis de volume em torno de 60 decibéis e frequências abaixo dos 50 hertz foram as mais eficazes. Também foi avaliado que para desencadear a liberação máxima de insulina, o som — ou a música — precisava ter pelo menos três segundos de duração e não poderia ter pausas superiores a cinco segundos.

E é aí que entra em cena o Freddie Mercury. Ao investigar quais gêneros musicais ofereciam uma resposta mais forte, o rock foi o que se destacou. E a música "We Will Rock You" foi a mais eficiente, seguida pelo tema do filme Vingadores — música clássica e folk acústico foram as que tiveram as respostas mais fracas.

Segundo Fussenegger a música do Queen acionou cerca de 70% da resposta de insulina em 5 minutos — e demorou 15 minutos para concluir a liberação total. Isso é comparável à resposta natural de insulina induzida pela glicose em indivíduos saudáveis.

Mecanismos de segurança

(Fonte: GettyImages)(Fonte: GettyImages)

O problema em usar ondas sonoras como gatilho para a liberação da insulina é que nós estamos expostos o tempo todo a sons, ruídos e barulhos. Liberar insulina nos momentos em que ela não é necessária, pode causar uma série de consequências, incluindo hipoglicemia, que é potencialmente fatal.

Para avaliar como todo o processo funciona em um ambiente com sons constantes, foram implantadas células produtoras de insulina em camundongos, para realizar dois tipos de testes. No primeiro, a barriga dos animais estavam diretamente sobre o alto-falante, na segunda, eles estavam em um ambiente com barulhos, incluindo "We Will Rock You".

“Nossas células projetadas liberam insulina apenas quando a fonte sonora com o som certo é reproduzida diretamente sobre a pele acima do implante”, explicou Fussenegger. Sons ambientes, como o barulho de veículos, cortadores de grama, sirenes ou conversas não tiveram qualquer efeito sobre o mecanismo.

Além disso, a equipe desenvolveu um fator de segurança extra. Depois que uma dose completa de insulina é liberada, são necessárias quatro horas para que as células se reabasteçam. Isso garante que, mesmo se as células forem expostas ao som, elas não são capazes de liberar uma carga completa de insulina — o que também evitaria a hipoglicemia.

Atualmente a pesquisa aguarda financiamento de alguma empresa farmacêutica para que mais testes possam ser realizados. Só então ela poderia começar a ser discutida para uso em humanos. Fussenegger espera que isso possa ocorrer em breve, uma vez que o sistema poderia ser usado com outras proteínas que atuam de maneira similar no nosso organismo.

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