Artes/cultura
23/05/2024 às 18:00•2 min de leituraAtualizado em 23/05/2024 às 18:00
Na segunda quinzena de maio de 2024, autoridades sanitárias dos Estados Unidos e Austrália confirmaram casos de gripe aviária, transmitida de animais para humanos.
Nós conhecemos esse roteiro: uma doença respiratória vinda de animais começa a se espalhar entre humanos e milhões de pessoas ficam doentes em todo o mundo, com muitas mortes. Foi assim em 2009, com a chamada gripe suína, e mais gravemente em 2020, com a covid-19.
Por isso, quando nós sabemos que um vírus foi transmitido de um animal para uma pessoa, já ficamos preocupados com a possibilidade uma nova pandemia. Mas será que nós realmente estamos correndo risco? Há chance desses novos surtos chegarem ao Brasil?
Antes de tudo, é importante entender o que está acontecendo nos Estados Unidos e Austrália. No primeiro país, foram dois casos detectados em 2024 — e embora os pacientes tenham sido infectados com o vírus H5N1, conhecido como gripe suína, eles pegaram a doença por contato com gado leiteiro. Pelo que se sabe, animais de nove estados já estão infectados.
Enquanto isso, na Austrália, uma criança foi infectada na Índia. Ela ficou doente, mas teve uma ótima recuperação e as autoridades australianas não detectaram mais nenhum outro caso.
O que as autoridades dos dois países dizem é que esses são casos esporádicos em humanos. A transmissão comunitária acontece somente entre os animais e é raro que o vírus passe para uma pessoa — sendo que a transmissão de humano para humano é improvável, no momento.
Assim sendo, nós não precisamos sentir tanto medo de uma nova pandemia agora — como foi com a covid-19 ou a gripe suína de 2009, que se espalharam rapidamente entre pessoas. Mas isso não quer dizer que a gente não deva acompanhar os casos com atenção.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) afirma que casos esporádicos como esses de 2024 são relativamente comuns e não causam preocupação por si só. Inclusive, os pacientes que têm essas formas da doença não apresentam sintomas graves.
Ainda assim, a circulação contínua do vírus entre os animais pode fazer com que surjam mais mutações que aí, sim, serão mais contagiosas entre humanos.
O vírus da gripe (influenza) é bastante imprevisível e sempre passa por muitas mutações. Por esse motivo que podemos ter várias gripes na vida e que as vacinas precisam ser atualizadas frequentemente, aliás. Mas mais perigoso que as mutações são os rearranjos.
Isso acontece quando vírus de duas ou mais linhagens se encontram em um mesmo indivíduo e rearranjam seus genomas, dando origem a um novo subtipo do vírus. Pode ocorrer que esse novo subtipo seja extremamente contagioso entre humanos, como aconteceu em 2009.
Naquela ocasião, houve um rearranjo de cepas virais de humanos, aves e suínos. Esse novo subtipo foi transmitido aos humanos e precisou de apenas três meses para se espalhar pelo mundo, causando uma pandemia.
Sendo assim, por mais que os vírus que estão passando dos animais para os humanos agora não gerem riscos, a transmissão entre os animais gera sim algumas preocupações. Afinal, ela abre possibilidade para o surgimento de subtipos mais contagiosos.
É por isso que as autoridades sanitárias e agrícolas dos países têm ficado atentas para as epidemias entre os animais, buscando controlar os surtos. Mas conforme as aves e o gado leiteiro são transportados pelo mundo, pode ser difícil fazer isso.
Segundo os cientistas, é bastante provável que uma nova epidemia de gripe aconteça no futuro. Pelo que sabemos, não será com esses vírus detectados em março de 2024 nos Estados Unidos e Austrália — mas sim com uma mutação que ainda deve surgir nos animais.