Estilo de vida
27/09/2024 às 15:00•2 min de leituraAtualizado em 27/09/2024 às 15:00
Um estudo recente revelou um fato impressionante sobre o sistema imunológico: os hormônios sexuais desempenham um papel crucial na sua regulação. Essa descoberta, liderada por cientistas suecos, explica por que homens e mulheres têm respostas imunológicas tão diferentes.
Até então, pensava-se que as diferenças entre os sexos no sistema imunológico eram principalmente atribuídas à genética. No entanto, os hormônios parecem ser os verdadeiros protagonistas dessa história. Isso tem implicações significativas, não apenas para entender melhor como o corpo lida com infecções, mas também para o desenvolvimento de novos tratamentos para doenças.
O estudo, que analisou homens transgênero passando por terapia hormonal de afirmação de gênero, demonstrou que a testosterona e o estrogênio afetam profundamente o equilíbrio entre dois componentes cruciais do sistema imunológico: o interferon tipo 1 (IFN-1), com funções antivirais, e o fator de necrose tumoral alfa (TNF-a), um agente pró-inflamatório.
Ao aumentar os níveis de testosterona e reduzir os de estrogênio, os pesquisadores observaram mudanças nas respostas imunológicas, aproximando o perfil imunológico dos homens trans ao dos homens cis. Isso mostrou que os hormônios, e não os cromossomos, regulam grande parte das funções imunológicas.
Essas descobertas são especialmente importantes quando se trata de entender por que homens e mulheres reagem de maneiras tão diferentes a doenças e vacinas.
Por exemplo, homens têm maior risco de complicações graves e mortalidade em infecções como a COVID-19, enquanto as mulheres costumam ter respostas mais eficazes às vacinas, mas com maiores efeitos colaterais. Além disso, as mulheres também enfrentam um risco maior de doenças autoimunes, como o lúpus e a Esclerose Múltipla (EM).
Ao que o estudo indica, essas respostas divergentes podem ser explicadas pelas diferenças hormonais que influenciam diretamente como o sistema imunológico responde a ameaças.
A pesquisa com 23 homens trans em tratamento com testosterona mostrou aumento significativo nos níveis do hormônio após três meses, enquanto o estradiol diminuiu. Houve mudanças nas células imunológicas, afetando a função de células específicas, como as dendríticas plasmocitoides, essenciais na resposta antiviral, sem alterar o número total de glóbulos brancos.
As vias imunológicas que envolvem o TNF-a e o IFN-1 também foram alteradas, sugerindo que o corpo modula a inflamação e a resposta a infecções de maneira diferente dependendo dos níveis hormonais.
Os hormônios sexuais, de acordo com os pesquisadores, desempenham um papel vital na manutenção do equilíbrio imunológico. Isso não apenas ajuda a explicar por que certas doenças afetam homens e mulheres de maneira distinta, mas também abre portas para novos tratamentos.
Compreender como os hormônios modulam o sistema imunológico pode levar ao desenvolvimento de medicamentos que imitam esses efeitos para tratar doenças autoimunes e melhorar respostas imunológicas. Essas descobertas também são importantes para a saúde de pessoas transgênero, que podem exigir acompanhamento especializado devido às mudanças causadas pela terapia hormonal.
Embora o estudo tenha focado na testosterona, é preciso explorar mais o impacto de hormônios como o estrogênio no sistema imunológico. Pesquisas futuras com amostras maiores e participantes de diferentes identidades de gênero são essenciais para entender melhor como o sistema imunológico se adapta às variações hormonais ao longo da vida.
Em suma, a pesquisa deixa claro que os hormônios sexuais não são apenas reguladores da reprodução e das características sexuais, mas também atores centrais na nossa capacidade de combater doenças. A descoberta traz uma nova perspectiva para a medicina, abrindo possibilidades para tratamentos mais personalizados e eficazes que levem em conta o perfil hormonal de cada indivíduo.