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23/01/2018 às 10:40•2 min de leitura
Você já deve ter visto a avassaladora imagem acima em outras ocasiões, não é mesmo? Clicada pelo fotojornalista britânico Mike Wells em Uganda no ano de 1980, o retrato mostra um missionário católico segurando a mãozinha de um garotinho faminto — e a foto é tão impactante que, na verdade, é difícil acreditar que o bracinho pertença a um ser humano.
Segundo o site Rare Historical Photos, a viagem à África aconteceu quando ele foi acompanhar o pessoal do Save the Children Fund, uma fundação não governamental do Reino Unido focada em oferecer ajuda humanitária e defender o direito das crianças em todo o mundo, para fotografar a situação no continente.
Crianças da cultura Karamojong (Wikimedia Commons/Marc Hofer)
Mais especificamente, Wells foi incumbido de cobrir a campanha de combate à poliomielite no Malawi e na Suazilândia, mas decidiu fazer uma viagem a Uganda. Uma vez lá, Wells foi visitar um seminário onde padres católicos distribuíam alimentos aos famintos — no início da devastadora onda de fome que atingiu a África nos anos 80.
Crianças famintas em Uganda (Hive Miner/Flickr)
Foi nesse lugar que o fotógrafo registrou a imagem que se tornou tão famosa e um dos ícones da crise humanitária vivida no continente. De acordo com Wells, um dos religiosos do local contou a ele que o menininho pertencia à cultura Karamojong e que tinha por volta de quatro anos de idade. Mas como a situação foi se tornar tão grave na região? A coisa toda aconteceu por causa de uma complexa soma de fatores...
O povo Karamojong é um grupo formado por pastores-agricultores que habita áreas da região nordeste de Uganda. Só que em 1978, uma severa estiagem acabou levando ao surgimento de pragas e à perda dos cultivos. Como a situação político-econômica no país nunca foi uma das mais estáveis, apesar de o ditador da época — um cara chamado Idi Amin — ser alertado do que estava acontecendo com os Karamojong, nenhuma ação foi tomada para prevenir a crise iminente.
Então, no ano seguinte, Amin foi derrubado do poder e os guerreiros Karamojong acabaram ganhando acesso a uma grande quantidade de armamentos e munição. Isso, por sua vez, provocou um forte desequilíbrio no poder regional e os povos de diferentes culturas começaram a se estranhar. Assim, além da falta de grãos devido à seca, o transporte de rebanhos e do pouco que era colhido se tornou incrivelmente perigoso.
Outra imagem dramática, desta vez clicada pelo fotógrafo Terry Fincher (The Fincher Files/Terry Fincher)
Para piorar, com a queda de Amin, os soldados do ditador se mandaram de Uganda, causando uma crise de segurança nacional e, consequentemente, o comércio no país foi duramente afetado. Então, segundo o Rare Historical Photos, no comecinho de 1980, os habitantes começaram a ficar sem comida, em maio a situação se tornou crítica e, entre julho e agosto do mesmo ano, a crise atingiu seu auge.
Os missionários católicos se encontravam na região tentando ajudar os famintos e Wells chegou para sua visita justamente nesse dramático momento. O britânico admitiu que chegou a se sentir envergonhado por clicar a imagem, tanto que ele guardou o retrato durante cinco meses sem publicá-lo em lugar nenhum.
A estarrecedora imagem de Wells (Rare Historical Photos/Mike Wells)
No entanto, em 1981, a fotografia acabou sendo inscrita — por outra pessoa e não pelo próprio Wells — e vencendo a badalada competição World Press Photo of the Year, reconhecimento que não trouxe ao britânico nem uma gota de orgulho, uma vez que ele era totalmente contrário a fotos de pessoas morrendo de fome serem premiadas em concursos fotográficos.