Ciência
09/02/2018 às 13:30•2 min de leitura
Cada um dos cerca de 200 países busca maneira de criar seus símbolos nacionais, seja através de brasão, de hino ou da bandeira. Esta última segue um padrão quase imutável: retangular, com algumas cores e um ou outro elemento que remeta a nação. A do Brasil, por exemplo, tem o verde para simbolizar nossas matas, o azul para representar os rios e o céu e o amarelo para lembrar nossas riquezas.
Outros países capricham em desenhos: a de Moçambique tem uma AK-47, a do Butão tem um dragão e a da Arábia Saudita tem uma espada. Porém, são nas cores que as bandeiras costumam se diferenciar. Muitas apostam nas três faixas, verticais ou horizontais, como a França, a Alemanha, a Bélgica e a Holanda. A Líbia, até 2011, tinha uma das bandeiras mais “preguiçosas”: um retângulo verde, sem nenhum desenho ou inscrição.
Mas você já reparou que as bandeiras de países não têm a cor roxa? A da Dominica é uma das poucas que possui a cor, mas apenas em um detalhe da plumagem do papagaio-imperial representado no centro da flâmula. Por que uma cor tão conhecida se tornou tão “irrelevante” na hora de as nações criarem seus símbolos?
Bandeira da Dominica: uma das pouquíssima a ter elementos roxos
O corante roxo surgiu com os fenícios da cidade de Tiro, local onde hoje está o Líbano. Os artesãos retiravam o pigmento de um caracolzinho marinho, cuja mucosa, após exposição ao sol, mudava a tonalidade de branco para amarelo-esverdeado, depois para vermelho e por fim o roxo. O processo necessitava uma enorme quantidade de caracóis e um tempo muito grande de processamento, fazendo um grama do corante ser mais caro do que o ouro!
Por isso, o roxo passou a ser um símbolo de status. A rainha Vitória, que liderou o Reino Unido entre 1837 e 1901, proibiu que qualquer pessoa além da família real trajasse algo nessa tonalidade. Antes disso, nos séculos 16 e 17, apenas os mais abastados tinham dinheiro para pagar por peças que trouxessem elementos púrpuras ou roxos.
A história da cor só mudou em 1856, quando o químico inglês William Henry Perkin acidentalmente criou uma forma sintética de produzir a cor: ele tentava fazer a molécula quinina, para tratar a malária, em laboratório quando chegou sem querer ao corante. Na hora ele patenteou a descoberta e barateou os custos da tonalidade.
William Henry Perkin segurando um pedaço de tecido lilás após criar a tonalidade em laboratório
Assim, quando o roxo finalmente se tornou algo mais acessível ao grande público, praticamente todas as bandeiras nacionais já haviam sido criadas. Não fazia sentido trocar o símbolo por um que tivesse a nova cor. Apenas algumas exceções ocorreram, como o caso da Dominica, que adotou sua bandeira com o papagaio em 1978.
Hoje em dia, algumas bandeiras já contam com a tonalidade, mas se tratam de entidades como a Igreja Apostólica Armênia e as Brigadas Internacionais. Cidades como Montreal (Canadá) e Madrid (Espanha) também trazem o lilás em suas flâmulas. Além delas, a bandeira da assexualidade também tem uma das listras dessa cor.
Bandeira da Igreja Apostólica Armênia