Ciência
27/02/2018 às 13:01•2 min de leitura
No terceiro capítulo de Gênesis, o primeiro livro Bíblico, uma serpente persuade Eva e Adão a comerem o fruto proibido da árvore que está no meio do Jardim do Éden. Deus havia liberado todos os outros frutos, menos o dessa árvore específica. Em nenhum momento, entretanto, fica explícito qual seria esse fruta. Então, por que a maçã acabou se tornando o símbolo do proibido?
Tudo aconteceu por conta de um escritor e poeta inglês chamado John Milton. Em 1667, ele lançou uma de suas obras-primas: “Paraíso Perdido”. Trata-se de um poema épico escrito na época em que Milton já estava cego, entre 1658 e 1664. Acredita-se que a cegueira do autor tenha sido causada por um deslocamento de retina ou por um glaucoma, mas o motivo exato é incerto.
Nesse longo poema, que tem mais de 10 mil linhas, Milton fala de uma das principais histórias da Bíblia, justamente a de Adão e Eva. Na obra, por duas vezes, o autor cita o fruto proibido como sendo a maçã, por mais que isso não seja falado na Bíblia. E isso aconteceu por conta de um problema de tradução.
Livro "Paraíso Proibido", publicado em 1667, ajudou a consolidar a ideia da maçã como fruto proibido
Voltando mais no tempo, o papa Dâmaso I, que teve o pontificado entre os anos 366 e 384 d.C., solicitou que um de seus principais escribas, Jerônimo, traduzisse a Bíblia hebraica para o latim. Acontece que, nessa língua, tanto “mal” quanto “maçã” possuem a mesma grafia: “malus”.
Antes disso, o fruto proibido era encarado sob a forma de diferentes frutas: figo, romã, uva, damasco e cidra são algumas delas. Até mesmo o trigo podia ser o responsável pela expulsão de Adão e Eva do Paraíso. Na Bíblia hebraica, a palavra original é “peri”, que é realmente traduzível como “fruto”.
Aconteceu que Jerônimo resolveu traduzir essa expressão como “malus”, já que, poderia tanto significar o “mal” quanto a “maçã”, ainda que pudesse fazer referência, na época, a outros frutos carnudos, como a pera e o figo. O Teto da Capela Sistina, uma das obras-primas de Michelangelo, traz uma serpente enrolada em uma figueira. Essa obra foi pintada entre 1508 e 1512.
Um pouquinho antes, em 1504, o desenhista alemão Albrecht Dürer representou o primeiro casal ao lado de uma macieira e acabou se tornando uma referência para os futuros retratistas da Bíblia. A publicação de “Paraíso Proibido”, no século seguinte, consolidou a figura da maçã com o “verdadeiro” fruto do pecado original, sem que, é claro, isso seja especificado na Bíblia.
Desenho de Albrecht Dürer, de 1504, mostrando Adão e Eva comendo uma maçã, acabou se tornando uma referência