Ciência
16/07/2020 às 14:00•3 min de leitura
O líder mongol Temujin (conhecido como Genghis Khan) se apaixona pela princesa tártara Bortai, então a sequestra e provoca uma guerra. Bortai rejeita o mongol e é resgatada após um ataque de seu clã. Mais tarde, Temujin é capturado, a princesa acaba se apaixonando por ele e o ajuda a escapar. Ele suspeita de uma traição por parte de seu companheiro e parte em uma busca para identificar o traidor e vencer os tártaros.
Essa é a sinopse do filme épico estadunidense The Conqueror (Sangue de Bárbaros) lançado em 1956 e considerado um dos 50 piores filmes de todos os tempos, segundo os autores Harry Medved, Randy Lowell e Michael Medved.
Com yellow face, reforço de estereótipos asiáticos e racismo declarado, o preconceituoso e pobre roteiro de Oscar Millard gerou relativo sucesso de bilheteria (cerca de US$ 4,5 milhões) só porque tinha grandes nomes de Hollywood, como John Wayne e Susan Hayward. Contudo, em um contexto geral, a produção dirigida por Dick Powell foi uma sucessão de catástrofes que resultou na morte de muitas pessoas.
Em 1953, Howard Hughes, dono da produtora RKO, decidiu que as cenas externas do filme seriam rodadas no Parque Estadual de Snow Canyon, próximo a St. George, em Utah (EUA), a apenas 220 quilômetros dos ventos da Área de Testes de Nevada, onde desde 1951 eram realizadas explosões de bombas nucleares ao ar livre.
Durante as 13 semanas de gravações, os times técnico e artístico engoliram a poeira radioativa que atingia Snow Canyon antes de se espalhar por Utah. Os cineastas sabiam dos testes próximos, porém decidiram acreditar no que o governo dizia sobre as detonações não causarem riscos à saúde.
Ironicamente, o protagonista, John Wayne, chegou a levar para Snow Canyon um contador Geiger, que mede o índice de radiação. Eles faziam piadas com o aparelho, que não parava de ranger e apitar, sem levar em consideração que isso indicava o risco de uma dolorosa morte no futuro.
Sofrendo com as altas temperaturas e a quantidade de poeira que devastava o set de filmagens, a produção preferiu concluir as gravações em um estúdio fechado. Não contente com essa mudança, Hughes decidiu transportar 60 toneladas de areia contaminada para as locações em Los Angeles, a fim de dar um ar mais realista às cenas.
Sete anos foram necessários para que surgissem os primeiros efeitos de toda a exposição durante as gravações de The Conqueror. Quando enfim começaram, as tragédias não pararam mais.
Em janeiro de 1963, Powell morreu em decorrência de tumores malignos alojados em seu pescoço e por todo o seu peito. A esposa, June Allyson, alegou que ele tinha morrido pelo vício em cigarros, porém as especulações sobre a radiação já tinham se espalhado pela mídia da época.
O ator Pedro Armendáriz foi o próximo a sofrer as consequências, porém com um desfecho mais dramático. Ele descobriu o câncer nos rins depois de muito lutar contra fortes dores nos quadris enquanto gravava o filme 007: From Russia With Love, em meados de 1963.
Muito melancólico e em puro sofrimento, Armendáriz teve que ser substituído por um dublê na reta final das filmagens; contudo, ele fez questão de recolher o cachê e resolver tudo antes de ser internado. No dia em que ficou sabendo que a doença estava em fase terminal, o ator cometeu suicídio. Em 18 de junho, aos 51 anos de idade, ele morreu em seu leito no hospital.
Estrela de The Conqueror, Wayne foi diagnosticado com câncer de pulmão em 1963 e morreu em decorrência de tumores malignos que surgiram em seu estômago em 1979. Ao longo da década de 1970, Agnes Moorehead e Hayward também sucumbiram à mesma doença.
Entre as 220 pessoas envolvidas na produção do filme, cerca de 90 desenvolveram tumores malignos e 46 morreram por conta deles. Em 1980, em entrevista para a revista People sobre os horrendos fatos, o Dr. Robert Pendleton, professor de Biologia da Universidade de Utah, declarou que "Com esses números, esse caso pode ser qualificado como uma espécie de epidemia".
Na época em que as mortes dos atores famosos infestaram a mídia ao lado de suposições das condições às quais foram submetidos durante as filmagens, muitos alegaram que era apenas o resultado do vício em tabaco — o mesmo que teria causado a morte de Powell.
Vários familiares entraram com processos contra o governo de Las Vegas, alegando negligência sobre os perigos reais que a Área de Testes de Nevada apresentava. Contudo, nunca foi comprovado que a poeira radioativa foi o fator determinante para as mortes.
Com a imprensa rotulando The Conqueror como "a imagem radioativa da RKO", Hughes entrou em uma espiral de culpa que não teve volta. O seu quadro de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) piorou ao longo dos anos e ele desapareceu do radar da mídia.
Para que ninguém jamais pudesse colocar os olhos no erro de produção que foi The Conqueror, Hughes gastou cerca de US$ 12 milhões comprando as cópias do filme. Há boatos de que ele as assistiu centenas de vezes sem parar trancado em um quarto de sua casa, enquanto consumia drogas e enchia garrafas de refrigerante com a própria urina.
Aos 70 anos de idade, pesando 41 quilos, com unhas e barba que mediam até 8 centímetros, em 5 de abril de 1976, Hughes morreu de falência dos rins a caminho do resort Acapulco Fairmont Princess Hotel, no México. No mesmo ano, a Universal Pictures adquiriu os direitos de The Conqueror e o transmitiu pela primeira vez em rede nacional, acabando com os esforços de anos do excêntrico aviador e cineasta para mantê-lo escondido.