Ciência
24/04/2021 às 13:00•2 min de leitura
“Entregue-o aos barcos”
De acordo com o livro A Vida de Artaxerxes, escrito pelo biógrafo grego e filósofo platônico Plutarco de Queroneia, essa frase seria atribuída a um suposto tipo de sentença de morte criada pelo Império Persa no século V a.C para punir da pior maneira o possível aquele que cometesse crimes bárbaros, como assassinato ou traição.
O método chamado de "escafismo", mais conhecido como “os barcos”, começava com o criminoso tendo suas mãos e pernas amarradas. O carrasco fazia a pessoa beber uma mistura de mel e leite até que ela não aguentasse mais, então depois a encharcava com o líquido antes de forçá-la a se deitar em um pequeno barco que ficaria à deriva em um pântano.
O propósito do mel e do leite servia para que o condenado vomitasse e defecasse, atraindo moscas e outros tipos de insetos. A partir disso, a sujeira da pessoa faria os insetos e vermes comê-la viva por dias ou semanas até que ela morresse. Como o processo podia ser lento e não resultar em morte, os carrascos costumavam colocar várias ratazanas no barco e cobrir a pessoa com outro barco.
(Fonte: Mysteries Unsolved/Reprodução)
O escafismo então ficou conhecido como a maneira mais repugnante e doentia que uma pessoa poderia morrer. No livro de Plutarco, o método de tortura aparece quando Artaxerxes II declara que ele próprio matou Ciro, seu irmão que tentou usurpar o trono, mas é desmentido por um soldado persa chamado Mitrídates durante uma festa. O homem bêbado alega que foi ele quem matou Ciro e não Artaxerxes, desencadeando a ira do imperador, que condena o homem ao escafismo.
Joannes Zonaras, um cronista bizantino do século XII d.C, chegou a mencionar em uma de suas obras o método de tortura – o que até poderia confirmar a existência dele durante o Império Persa se não parecesse uma cópia da descrição de Plutarco –, indicando que o cronista claramente leu a obra e só estava reproduzindo. Portanto, Zonaras não pode ser levado em consideração como uma fonte.
(Fonte: PressTV/Reprodução)
O que faz os historiadores serem céticos com relação à existência do escafismo nos tempos antigos, é a credibilidade de Plutarco, uma vez que o filósofo era conhecido por ser extremamente anti-persa. Em seu ensaio Sobre a Malícia de Heródotos, ele deixou claro o seu ódio radical pelo povo, acusando o antigo historiador grego de ser tendencioso contra os persas e um “amante bárbaro” deles, em parte porque Heródoto não retratou os persas como vilões totalmente irredimíveis.
Por isso muitos consideram a existência do escafismo mais como um reflexo do quanto Plutarco odiava os persas do que eles efetivamente poderiam ser cruéis.