Ciência
27/09/2021 às 10:30•3 min de leitura
Em 1939, logo no eclodir da Segunda Guerra Mundial na Europa, o líder Josef Stalin (1878-1953) enviou mais de 750 mil homens pela fronteira ocidental da Rússia com o objetivo de surpreender a Finlândia, que tinha um exército de apenas 300 mil soldados. Além disso, o esforço bélico dos finlandeses se resumia a alguns tanques de guerra e cerca de 100 aeronaves, em contraste com o peso de 6 mil tanques e mais de 3 mil aeronaves soviéticas. O fim era uma aposta certa.
Ao longo de 3 longos e duros meses, os dois países lutaram no que ficou conhecido como Guerra de Inverno, cujo desfecho foi uma reviravolta inesperada que desnorteou Stalin ao ver a tropa finlandesa sair vitoriosa do conflito, contrariando todas as expectativas.
A reposta dessa vitória estava também nas costas de um homem: Simo Häyhä (1905-2002), mais conhecido como "Morte Branca".
(Fonte: Wikipedia/Reprodução)
Nascido em 17 de dezembro de 1905 no vilarejo Kiiskinen, em uma província no sul da Finlândia, Häyhä era o sétimo de oito filhos de Juho e Katriina Häyhä, um casal de fazendeiros luteranos.
Desde muito cedo, ele aprendeu a comandar uma fazenda, caçar e até esquiar com muita habilidade, porém era no tiro ao alvo que ele era mesmo imbatível. Ao longo de sua adolescência, o jovem ganhou vários concursos de tiro na província onde nasceu, enchendo de troféus as prateleiras de sua casa. Apesar disso, sempre foi considerado um jovem tímido que preferia ficar bem atrás nas fotos em grupo.
Contudo, a partir do momento em que se alistou para o serviço militar finlandês em 1925, aos 17 anos, suas habilidades levaram Häyhä a ocupar o lugar central. Segundo o major Tapio Saarelainen, que escreveu sua biografia, o jovem não recebeu nenhum treinamento de atirador de elite até 1938.
De maneira surpreendente, Häyhä conseguia estimar distâncias com uma precisão de 1 metro até 150 metros. Durante seu treinamento, ele chegou a acertar o mesmo alvo 16 vezes a 150 metros de distância em apenas 1 minuto. Tudo isso tendo que alimentar manualmente seu rifle.
(Fonte: Infoescola/Reprodução)
Depois de todo seu treinamento, Häyhä completou o ano obrigatório de serviço militar aos 20 anos e voltou para sua vida no interior como fazendeiro. Quando as tropas de Stalin invadiram a Finlândia, ele foi convocado com seus demais companheiros a lutar na guerra que começava.
Sob o comando do tenente Aarne Juutilainen, na 6ª Companhia do Regimento de Infantaria 34, o jovem Häyhä teve que vestir uma camuflagem pesada, toda branca, que o cobria da cabeça aos pés, para conseguir passar despercebido em meio à paisagem monocromática do inverno, em temperaturas de até -20 °C.
Foi dessa forma que ele ajudou o exército finlandês a derrotar as tropas enormes de Stalin. Armado com seu rifle antiquado, Häyhä trabalhou sozinho em meio à floresta nevada durante os 100 dias que durou a Guerra de Inverno. O franco-atirador matou entre 500 e 542 soldados soviéticos através de uma mira de ferro presente em sua arma ultrapassada, enquanto os demais lutavam para enxergá-lo pelas lentes telescópicas extremamente modernas.
(Fonte: The Art of Manliness/Reprodução)
Häyhä se camuflou entre montes de neve que impediam que a força do disparo de seu rifle levantasse uma nuvem de fumaça que seria essencial para o inimigo localizá-lo. A estratégia foi infalível, porém sua missão solo foi em condições brutais. Sua alimentação se dava em dias alternados com suprimentos que ele mesmo encontrava, tendo que enfrentar os dias curtos do inverno e sobreviver alerta durante as noites em que a temperatura permanecia abaixo de zero.
Foi assim que o guerreiro solo ganhou a alcunha de "Morte Branca" pelos soldados soviéticos, que temiam que ele estivesse à espreita na neve. Entre o povo finlandês, Häyhä tornou-se o "Peste Branca": uma lenda, um "espírito guardião" que podia se mover como um fantasma pela paisagem desolada do inverno.
Contudo, 11 dias antes do fim da guerra, Häyhä foi finalmente atingido por um soldado soviético, que disparou bem em direção à sua mandíbula. Quando o guerrilheiro acordou de seu coma de quase 2 semanas, percebeu que metade de seu rosto estava faltando.
(Fonte: My History/Reprodução)
Foram necessários vários anos para que Häyhä conseguisse se recuperar do trauma físico que sofreu. Nesse ínterim, ele foi prestigiado com diversas honrarias e medalhas militares e governamentais. Quando finalmente voltou à vida normal, ele se tornou uma figura de renome na história da Finlândia, chegando a caçar com o então presidente do país, Urho Kekkonen (1900-1986).
O "Morte Branca" encontrou a própria morte aos 96 anos, em 1º de abril de 2002.