Como os skinheads se tornaram um grupo racista?

15/10/2021 às 02:002 min de leitura

Ao contrário do que conhecemos atualmente, os skinheads têm uma história de criação muito diferente antes de serem associados aos movimentos neonazistas. Em meados da década de 1960, o grupo cresceu como uma forma de luta por direitos para a classe trabalhadora em Londres.

Cansados das promessas vazias do movimento hippie e a política de austeridade do governo britânico, os skinheads emergiram. Porém, não demorou muito tempo até que a liderança do movimento fosse tomada por políticas da extrema direita e todos os objetivos se perdessem no meio do caminho. Então, vamos conhecer um pouco mais a história dessa transformação.

Os primeiros skinheads

(Fonte: Wikimedia Commons)(Fonte: Wikimedia Commons)

Em seu livro The Story of Skinhead (2016), Don Letts — um dos skinheads originais de Londres — mostra a sua visão sobre como o racismo pode se infiltrar na política da classe trabalhadora. Em 1960, a primeira leva de skinheads levantava a mesma bandeira: abraçar o status de proletariado com um senso de orgulho e significado.

Muitos membros do movimento haviam crescido em domicílios pobres cedidos pelo governo ou em fileiras de casas nos subúrbios da capital inglesa. Essas pessoas cresceram afastadas do movimento hippie, o qual parecia representar muito mais a classe média. 

Naquela mesma época, imigrantes jamaicanos começaram a entrar no Reino Unido, e muitos deles viviam lado a lado com brancos da classe trabalhadora. Essa proximidade física fez os dois grupos realizarem um intercâmbio cultural, e jovens ingleses logo passaram a ouvir discos de reggae e ska jamaicanos.

Por esse motivo, era comum ver os skinheads usando roupas como casacos lisos e mocassins, cortando os cabelos de forma mais rebelde para tentarem se desassociar dos hippies. Contudo, no começo da década de 1970, a palavra skinhead mudou de significado.

Ascensão do racismo

(Fonte: Wikimedia Commons)(Fonte: Wikimedia Commons)

No início da nova década, a primeira geração de skinheads começou a assustar o restante da população. Na imprensa convencional, o grupo era tratado como vândalos obcecados por roupas, futebol, cerveja e violência. Quando a segunda leva de skinheads foi criada, esse retrato já não era mais um incômodo, mas sim realidade.

Alguns grupos políticos viram neles uma oportunidade de crescer. Para a Frente Nacional Britânica (BNF), de extrema direita, os skinheads eram um grupo de homens da classe trabalhadora cujas dificuldades econômicas podiam torná-los simpáticos à política étnico-nacionalista do partido.

Então, o partido passou a se infiltrar no grupo e inserir a própria ideologia. A BNF vendia revistas propagandísticas em jogos de futebol, onde sabiam que atingiriam um grande público, assim cada vez mais recrutava jovens para servir seus ideais racistas com uma política de guerra racial que "orientava" os skinheads a odiar os negros.

O partido também se aproveitou do fato de muitos membros do movimento viverem em áreas rurais, onde as comunidades eram mais fechadas, e as reuniões poderiam ser feitas sem interrupções. Nesses espaços, a extrema direita encontrava um palanque para disseminar o ódio.

Escalada da violência e cenário atual

(Fonte: Pixabay)(Fonte: Pixabay)

Com o passar do tempo, os esforços da BNF corroeram o movimento skinhead de dentro para fora. Por exemplo, o grupo Sham 69, uma das bandas de pop punk mais bem-sucedidas dos anos 1970, decidiu parar de tocar após a Frente Nacional, apoiada por skinheads, começar um tumulto dentro de um de seus shows em 1979.

Os skinheads haviam-se tornado cada vez mais violentos e passaram a apoiar um gênero musical chamado de "Oi! Music", o qual misturava o pop punk com conceitos nazistas. Em diversas oportunidades, membros do movimento atacaram bares onde comunidades de indianos e paquistaneses se reuniam pela cidade.

Foi com essa imagem que os skinheads foram difundidos para outras partes do planeta. Nos Estados Unidos, por exemplo, gangues do gênero passaram a dominar presídios com suas cabeças raspadas, jaquetas de couro e tatuagens de suásticas. Além disso, seus membros também ficaram conhecidos por seu ódio aos judeus, aos negros e à comunidade LGBTQ+.

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