Ciência
28/11/2021 às 10:00•3 min de leitura
Uma das marcas mais famosas de lingerie do mundo inteiro, a Victoria’s Secret anunciou em junho deste ano que aposentaria as famosas Angels, modelos que desfilavam com as peças das novas coleções com asas nas costas. Mas você sabe quando e por que a marca foi criada?
A gigante de lingerie feminina nasceu destinada a atrair um público bem específico: os homens. Aberta em 1977, a loja começou quando seu fundador, Roy Raymond, procurava uma lingerie para dar à esposa, mas tinha vergonha de ir até um estabelecimento comercial para comprar uma. Na época, pensava-se que um homem que entrasse em uma loja de roupa íntima poderia parecer pervertido.
Uma loja para homens
Assim, Roy Raymond teve a ideia de abrir uma empresa que facilitasse a procura de roupas íntimas femininas por parte dos homens. Com 80 mil dólares de suas economias e de sua família, Raymond e a esposa abriram uma loja em um pequeno shopping em Palo Alto, na Califórnia. "A ideia era recriar um quarto da época vitoriana, cheio de madeira envelhecida, tapetes orientais e cortinas de cetim. Roy Raymond escolheu o nome 'Victoria' para associar à rainha de mesmo nome. Os segredos de 'Victoria', claramente refinada, estariam escondidos sob a roupa", conta Naomi Bar, do portal Slate.
Logo após o lançamento da primeira loja, Raymond abriu mais cinco novos estabelecimentos, além de um catálogo de underwear de 42 páginas. Mesmo com esse sucesso inicial, em 1982 a marca esteve à beira da falência. Foi quando Roy Raymond se viu obrigado a vender a Victoria’s Secret para o empresário Leslie Wexner, que era já dono da marca The Limited, especializada em roupas esportivas, fundada em 1963. A transação custou US$ 1 milhão.
Foto do primeiro catálogo da marca.
O novo dono teve a ideia de investir mais no público feminino, que ainda não era atraído pela boutique. Não se voltar às mulheres era, obviamente, um erro, já que o país passava por uma época de quebra de padrões e mudanças nos costumes: a pílula anticoncepcional era uma novidade, os movimentos feministas se prenunciavam, e a sociedade discutia a revolução sexual.
Leslie Wexner teve então uma "grande sacada": vender lingerie sensual diretamente às mulheres, e não aos maridos dela. A Victoria’s Secret passava a centralizar suas campanhas em mulheres magras e convencionais. A medida foi responsável por impulsionar o negócio — em 1995, a marca já somava 670 lojas apenas nos Estados Unidos. Em 2019, a renda da Victoria’s Secret era de US$ 6,8 bilhões (conta-se, inclusive, que Roy Raymond criticava os novos catálogos criados por Leslie Wexner, chamando-os de soft porn).
Mas nem tudo são rosas na história dessa famosa marca de lingerie. Para começar, o fundador teve um fim trágico: após divorciar-se, Roy Raymond se suicidou em 1993, ao pular da Golden Gate Bridge. Já Leslie Wexner esteve envolvido em escândalos por conta de sua ligação com o empresário Jeffrey Epstein, o multimilionário condenado por vários crimes de abuso, tráfico sexual e estupro, morto em 2019.
Vale lembrar que há muitos consumidores dispostos a não esquecer as intempéries na história da marca — como quando Ed Razek, gerente de marketing da L Brands, a empresa que engloba a Victoria’s Secret, concedeu uma entrevista à Vogue em que proferiu frases consideradas gordofóbicas e transfóbicas.
Em 2018, uma manifestação chamada "Fallen Angels" reuniu sete mulheres que tiraram suas roupas na frente de uma loja da Victoria’s Secret em Londres para protestar contra a falta de diversidade de representatividade da marca. A manifestação, reclamações do público e das próprias angels por conta do ambiente de trabalho, juntamente com o declínio da reputação da marca, levaram a uma mudança brusca no posicionamento dela. No lugar das modelos perfeitas e padrão, entram novas embaixadoras da marca, como a jogadora Megan Rapinoe, a modelo plus size Paloma Elsesser e a atriz indiana Priyanka Chopra.
A ideia é limpar a imagem da marca, que sofreu vários baques nas últimas décadas. Ao celebrar o padrão de beleza das supermodelos inatingíveis à maior parte da população mundial, a Victoria’s Secret — que se especializou em produzir e vender lingerie destinada a momentos especiais, e não para o dia a dia — se tornou ultrapassada. A reformulação da marca, portanto, visa acompanhar as mudanças do próprio público.
O rebranding, aliás, é reação às inúmeras críticas que a marca sofreu nos últimos anos, especialmente por centralizar seu marketing em modelos magras e brancas. O novo posicionamento, focado no slogan "What women want", é uma virada significativa nessa marca que sempre apostou em uma ideia bem fechada sobre o que seria sensual. Se o novo posicionamento da Victoria’s Secret será bem-sucedido? Só o tempo dirá.