Ciência
05/12/2021 às 07:00•3 min de leitura
Silva, Alves, Oliveira, Pereira, Dias, Santos e Martins. A probabilidade de que você, brasileiro, tenha algum desses sobrenomes é bastante alta. Mas você já parou para pensar por que eles são tão comuns?
Para entender essa questão, é preciso revisitar a história da colonização do Brasil. Isso porque os sobrenomes existentes têm ancestralidade, ou seja, remetem-se à história das pessoas e apontam as origens de suas famílias. Uma pesquisa feita em 2016 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) descobriu que 87,5% dos brasileiros têm nomes de origem ibérica: surgiram na Espanha ou em Portugal.
Esse dado revela, então, que quase 90% dos brasileiros descendem de europeus? Não exatamente. A história dos sobrenomes nos revela muito sobre como os brasileiros nativos (os de origem indígena) e os descendentes de africanos foram “rebatizados” ao longo dos séculos, por processos diversos.
Alguns sobrenomes são muito comuns porque foram dados a pessoas escravizadas trazidas da África ao Brasil. (Fonte: Wikimedia)
A doutora em Linguística Patrícia Carvalhinhos, e professora da Universidade de São Paulo (USP), diz que, em muitos casos, é difícil definir a ancestralidade dos brasileiros, pois os sobrenomes refletem questões históricas, étnicas e religiosas. "Era normal pessoas adotarem sobrenomes em referência ao lugar onde moravam. Isso se dava bastante na Idade Média, em que a família recebia o nome da terra e os outros nomes podiam ir se apagando por causa da propriedade", ela afirmou.
A questão da geografia da terra de origem é recorrente em alguns sobrenomes, mas há também casos que derivam de profissões (como os Machado ou Ferreira), os patronímicos (vindos do pai ou de algum antepassado masculino), os de origem religiosa (como Santiago), entre outros. Há ainda sobrenomes surgidos do abandono de crianças em orfanatos, como Anjos.
Carvalhinhos conta ainda que houve um processo de “doação” de nomes até o século XIX, antes que houvessem leis que proibissem os pais de darem diversos sobrenomes aos filhos. Até então, era possível que uma família tivesse rebentos com sobrenomes diferentes.
(Fonte: Shutterstock)
É importante saber também que o sobrenome de uma pessoa no Brasil pode conter marcas da desigualdade social. Há estudos que revelam que pessoas com esses sobrenomes mais comuns (como Silva, Oliveira e Souza) tendem a ter menores salários nas empresas. Não há ainda explicações definitivas para essa associação, mas uma possibilidade é que os sobrenomes mais comuns são mais frequentes em pretos e pardos — população historicamente desfavorecida no país. A verdade é que um brasileiro tem mais chance de ter um bom salário caso tenha um sobrenome alemão ou italiano, por exemplo.
Conheça, a seguir, os sobrenomes mais comuns entre a população brasileira e suas origens.
Muitos dos sobrenomes brasileiros têm origens ibéricas. (Fonte: Reprodução)