Ciência
25/12/2021 às 09:00•2 min de leitura
A rainha-mãe, Ná Agontimé, nasceu em Tendji, um pequeno vilarejo situado no reino de Daomé (atual Benin) no século XVIII. Era uma das oito esposas do rei Agonglo e, enquanto seu marido esteve vivo, teve uma vida adequada para alguém da realeza.
(Fonte: Senado Federal/ Twitter/ Reprodução)
Em certa altura de sua vida, o rei Agonglo, guiado pela fé de seu povo, ouviu de um sacerdote que o principal herdeiro do trono de Daomé, seu filho Adandozan, seria o responsável por causar uma grande desgraça ao reino.
Acreditando na revelação do sacerdote, Agonglo decidiu tomar medidas para assegurar a paz para Daomé antes que chegasse o dia de sua morte. Foi assim que o príncipe Gakpe, que ainda era uma criança, foi escolhido pelo rei para ser seu sucessor.
Com a morte do rei Agonglo, em 1797, Agontimé começou a ter problemas para reinar, correndo risco de vida. Adandozan decidiu que os desejos do rei morto não seriam respeitados e tramou contra a realeza liderada pela rainha-mãe, tomando o poder. Ao conquistar o trono, uma de suas primeiras ações foi deportar Agontimé.
Agontimé. (Fonte: Geek Feminist/ Twitter/ Reprodução)
Entre o século XVI e XIX, a região conhecida como Golfo de Benin se consolidou com uma forte área para a comercialização de escravizados. O reino de Daomé manteve uma sólida relação comercial com os portos brasileiros, algo que persistiu mesmo depois de o Império Britânico abolir o tráfico de escravizados.
A versão que é mais aceita sobre o destino da rainha-mãe é que ela teria chegado ao Nordeste do Brasil. Aqui, Ná Agontimé fundou a Casa das Minas após conseguir alforria, sendo a responsável por trazer e consolidar no país o culto aos voduns e preservar a cultura de seus ancestrais. Adotou o nome Maria Jesuína e foi sacerdotisa de Toi Zomadônu, uma importante divindade ancestral do povo fon.
Templo de tambor de Mina Casa das Minas. (Fonte: Wikipedia/ Reprodução)
A Casa das Minas, hoje um patrimônio cultural, é uma antiga comunidade de São Luís do Maranhão que ainda guarda um grande registro histórico da relação entre o Brasil e as pessoas vindas de Daomé.
Em 1818, o príncipe Gakpe, conseguiu retornar ao Daomé. Nessa ocasião, aliou-se ao brasileiro Francisco Félix de Souza, um traficante de escravizados que já atuava na região desde os tempos de Agonglo e que o ajuda a tomar o poder. Após derrubar e prender o irmão, Gakpe ordenou uma série de expedições para as Américas em busca de sua mãe.
Como recompensa pela ajuda, concede a Félix o monopólio de exportação de escravizados. Um detalhe interessante nessa história é que o rei Gakpe, que já havia adotado o nome de Gezo, mandou de presente para D. Pedro I o trono de seu irmão em uma dessas expedições. No entanto, o item foi destruído durante o incêndio do Museu Nacional, em 2018.
As tentativas do rei Gezo em encontrar sua mãe fracassaram. O nome Ná Agontimé só voltou a ser objeto de pesquisa em 1952, quando Pierre Verger, durante suas pesquisas junto ao Institut Français d’Afrique Noire (IFAN), apontou que a rainha-mãe desempenhou um papel fundamental na religiosidade maranhense – o Maranhão é o único lugar do mundo onde as divindades da realeza de Daomé ainda são cultuadas.
Em 1985, essa tese foi confirmada por especialistas e pesquisadores da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A partir daí, reconhece-se oficialmente Ná Agontimé como fundadora da Querebentã de Zomadônu ou Casa das Minas, mas o que realmente aconteceu com ela ninguém sabe. Alguns pesquisadores até levantaram a possibilidade de ela ter conseguido retornar à África.