Ciência
16/03/2022 às 11:00•3 min de leitura
Há mais de dois séculos, no ano de 1817, a Capitania de Pernambuco passava por um de seus momentos mais conturbados durante o período colonial. A Revolução Pernambucana foi um movimento separatista e de perfil republicano que indicava as insatisfações das elites locais com o controle exercido pela coroa portuguesa.
Havia, ainda, o descontentamento da população para com as desigualdades sociais existentes na capitania. Historiadores afirmam que essa revolta solidificou o terreno para que, cinco anos depois, o Brasil declarasse sua independência de Portugal.
Batalha dos Guararapes, de Victor Meirelles. (Fonte: Museu Nacional de Belas Artes)
Anos antes, os holandeses haviam chegado à capitania de Pernambuco. No século XVIII, após a expulsão deles do Nordeste brasileiro, uma grave e longa crise econômica tomou conta da região, motivada, especialmente, pela desvalorização do açúcar produzido no mercado europeu.
Os donos de engenho não contavam com os holandeses levando os conhecimentos adquiridos para montar novas plantações, dessa vez nas Antilhas. Essa desvalorização desencadeou uma série de problemas de caráter econômico e social, alavancando a pobreza e a miséria.
Foi o cenário perfeito para que os ideais republicanos se espalhassem nas cidades da capitania, que assistiu nações serem formadas em toda a América. Havia mais um detalhe nesta equação: a chegada de Dom João VI e sua corte ao Brasil elevaram o peso econômico do governo central sobre as províncias. O pavio de pólvora estava prestes a estourar.
Chegada da Família Real Portuguesa ao Rio, de Armando Martins Viana. (Fonte: Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro)
O desconforto da chegada da corte portuguesa, em 1808, levou a uma grande insatisfação popular. Em 1817, o Centro-Sul do país prosperava, enquanto Nordeste enfrentava uma grande recessão pelos motivos que foram citados anteriormente, impulsionada pela seca que tomou a região um ano antes.
O contexto deixava prestes a explodir o que conheceríamos como Revolução Pernambucana: falta de alimentos, aumento da população em situação de rua e militares brasileiros ocupando patentes menores que militares portugueses no Exército.
A Independência nos Estados Unidos, a Revolução Francesa e a Revolução no Haiti pairava a mente dos futuros insurgentes. O governador régio Caetano Pinto de Miranda Montenegro determinou a prisão dos conspiracionistas. Mas, no momento em que estendeu a ordem para os militares que apoiavam a revolução, desencadeou uma série de ataques, que deflagraram a revolução.
Bênção das Bandeiras de 1817, de Antônio Parreiras. (Fonte: Reprodução/JC Online)
Quando falamos da Revolução Pernambucana não podemos deixar de citar: Domingos José Martins, José Barros Lima, Padre João Ribeiro e Cruz Cabugá. São considerados os líderes dos revolucionários, comandando a instalação do Governo Provisório.
Eles, entre outras coisas, defendiam e colocaram em vigor: a proclamação da República, a liberdade de imprensa e credo, o princípio de três poderes e aumento do soldo dos militares. Era uma clara inspiração nos ideais liberais, ainda que tenham optado por manter a escravidão. Cabugá, inclusive, foi em missão diplomática aos Estados Unidos, de onde, além de armas, teria trazido muitas influências.
Apesar da elite e de militares encabeçando os revolucionários, vários grupos sociais participaram do movimento, de comerciantes a clérigos. Frente a todas as contradições que possam ser apontadas, havia muita unidade entre os integrantes. Por tudo que até aqui apresentamos, historiadores estão em consenso para afirmar que a Independência do Brasil foi muito influenciada pelo que aconteceu em Pernambuco.
Independência ou Morte, de Pedro Américo. (Fonte: Museu Paulista/Wikimedia)
Até a Revolução Pernambucana, pouco vinha à tona sobre a insatisfação dos brasileiros com a presença portuguesa e da maneira como a coroa cobrava seus impostos sobre as elites locais. Outra grande influência desse movimento na futura Independência do Brasil foi mostrar que era possível formar um governo que atendesse as demandas locais.
Tanto é, que mesmo ao sufocar os revoltosos da Capitania de Pernambuco, a coroa portuguesa não conseguiu calar a ebulição social e política que tomava corpo. Foram apenas 75 dias de duração, mas responsável por criar o cenário perfeito para que o Brasil se tornasse, anos depois, uma nação independente.
Em especial, essa revolução em Pernambuco trouxe os ideais libertários para o Brasil, que permaneceram até 1822. Era a certeza de que as conspirações podiam sair do papel e que os anos de domínio português estavam contados.