Estilo de vida
09/05/2022 às 06:30•3 min de leitura
Era outono de 2001 quando uma pequena caixa parecida com um armário foi upada no site de compra e venda eBay, acompanhada de uma insólita descrição: “Caixa de vinho judaica assombrada”.
O vendedor do produto era um estudante universitário do Missouri (EUA) chamado Iosif Nietzke, que alegava que a caixa continha mais do que duas mechas de cabelo, uma placa de granito, um botão de rosa seco, uma taça, duas moedas de trigo e um castiçal —, carregava também uma entidade inumana do folclore iídiche, um dibbuk. Nietzke pedia para que os interessados tivessem cuidado, porque a caixa possuía um perturbador histórico de vários proprietários que sofreram em sua posse devido ao bombardeio de atividades paranormais doentias que proporcionou.
A caixa foi arrematada por US$ 280 por Jason Haxton, curador de um museu universitário. Conforme a história da caixa se espalhou, logo em seguida, um intenso frenesi ao redor do produto cresceu a ponto de ruptura, angariando mais de 140 mil acessos para a página de leilões do eBay em apenas um dia.
(Fonte: Travel Channel/Reprodução)
Um jornal judeu de 107 anos na Costa Leste, chamado Forward, escreveu uma matéria imensa explicando ao público os poderes e a história de um dibbuk, o que só aumentou o interesse das pessoas, que ficaram ainda mais obcecadas pela caixa.
Nos meses que se seguiram, Haxton foi assediado por cineastas, jornalistas e documentaristas que queriam saber sobre os mistérios da caixa, incluindo rabinos, judeus, ortodoxos e intelectuais hebreus se oferecendo para decifrá-la.
Haxton teve que tirar da lista telefônica seu número residencial, bem como mudar seu endereço de e-mail e abrir o site dibbukbox.com, onde tudo sobre o produto foi postado para que os fãs pudessem ler.
(Fonte: Boing Boing/Reprodução)
A história da caixa dibbuk repercutiu em tantos aspectos que adquiriu caráter de lenda urbana nos Estdos Unidos, sendo inspiração para o artigo de Leslie Gornstein, Jin in a Box, publicado em 2004 no Los Angeles Times. Em 2012, o diretor Orle Bornedal produziu o famoso filme Possessão, inspirado tanto no artigo da jornalista quanto em tudo o que a caixa reuniu de testemunhos ao longo de 11 anos de história.
E foi a partir desse estranho objeto, que segue sendo um verdadeiro mistério sobre seus efeitos malignos — visto que muita invenção foi criada devido ao hype — que pessoas viram no eBay um ótimo meio de faturar com a venda de objetos malignos.
(Fonte: NPR/Reprodução)
O sucesso da caixa dibbuk na aba de leilões do site fez crescer um mercado independente de venda de pedaços de madeira, feixe de seixo, roupas, espelhos, livros e qualquer outro tipo de objeto que estaria, supostamente, habitado, amaldiçoado ou enfeitiçado — inclusive as bonecas.
Carregando um longo histórico, das bonecas de vodu de Nova Orleans do início do século XIX até a Era Vitoriana, as denominadas "bonecas assombradas" são descritas como objetos que contém espíritos, basicamente o mesmo que acontece com a famosa boneca Annabelle, guardada no Museu Warren.
(Fonte: TripAdvisor/Reprodução)
Acredita-se que esses espíritos sejam crianças mortas ou adultos torturados que viviam na pobreza urbana ou em casas coloniais do século XX no sul dos Estados Unidos, em sua maioria, mortas em incêndios, ou em qualquer tipo de assassinato que você possa imaginar.
E isso parece ter aumentado o desejo das pessoas — e também das apostas, que podem ultrapassar US$ 5 mil. Portanto, para chamar a atenção dos compradores, o produto precisa seguir uma narrativa de três partes: detalhar a história de como o antigo possessor da boneca morreu; o que a torna amaldiçoada e potencialmente perigosa; e por fim seu traço de personalidade — brincalhona, travessa, amigável etc.
(Fonte: Medium/Reprodução)
Os leiloeiros premium podem adicionar uma linha especial que inclui os poderes contidos nas bonecas, como desligar luzes e se mover dos lugares. Devido a isso, o eBay teve que colocar um anúncio no final de todas as listagens, ressaltando que não se responsabiliza sobre os atributos sobrenaturais dos objetos.
No entanto, isso não impediu que compradores enchessem seções de comentários com feedbacks negativos porque não obtiveram o resultado esperado com o produto. A maioria dos leiloeiros responde que o cliente não deu tempo o suficiente para que a atividade paranormal acontecesse.
(Fonte: Times Higher Education/Reprodução)
“Eu acho que acredito em espíritos. Eu quero pelo menos esperar que haja alguma mágica no mundo, ou alguma coisa que não podemos ver”, respondeu Eric Oglander, apaixonado por procurar coisas estranhas no site, em entrevista ao The New York Times, ao ser indagado se acredita no sobrenatural.
De acordo com uma pesquisa feita pela YouGov em outubro de 2019, mais de 4 em cada 10 norte-americanos acreditam em espíritos, demônios, fantasmas e outros seres sobrenaturais. Mais de um em cada cinco deles (22%) são enfáticos em dizer que espíritos existem.
Apesar de reservar uma parcela bem grande do seu dia para procurar por itens assombrados no eBay, Oglander revelou que nunca teve coragem de comprar nada.