Esportes
04/07/2022 às 06:30•2 min de leitura
O yagán, uma língua indígena característica do extremo sul da América do Sul praticamente deixou de existir após a morte de seu último falando vivo na região. Cristina Calderón, que tinha 93 anos, faleceu na última quarta-feira (29). Ela era considerada a guardiã de sua cultura ancestral.
Após a morte de sua irmã em 2002, Calderón passou a ser a única pessoa da comunidade yagán a dominar a língua e também a última pessoa do mundo que conseguia falá-la. Durante sua vida, ela trabalhou para disseminar seu conhecimento criando um dicionário do idioma com traduções para o espanhol.
Ha fallecido mi madre, Cristina Calderón, a los 93 años. Tengo una pena profunda por no estar con ella al momento de partir. Es una noticia triste para los yagán.
— Lidia González Calderón (@lidiayagan) February 16, 2022
Todo lo que haga en el trabajo en el que estoy, será en tu nombre. Y en él, estará también reflejado tu pueblo pic.twitter.com/zf9ecn1qOB
A morte de Crisitina Calderón deixou grandes marcas entre os yagán. Nas redes sociais, sua filha, Lidia González, fez questão de expressar o quanto esse evento foi impactante na vida de muitas pessoas. “Com ela se foi uma parte importante da memória cultural de nosso povo”, lamentou no Twitter.
Atualmente, González é uma das representantes de seu povo que trabalha para elaborar uma nova constituição no Chile, onde a família vive. O dicionário deixado para trás por Cristina, no entanto, é uma das esperanças de que a língua possa ser preservada de alguma forma para as gerações futuras.
Para Lídia, sua mãe deixou uma grande riqueza de conhecimento empírico especialmente valioso em termos linguísticos. Dessa forma, ela ainda crê que o Yagán pode ser resgatado e sistematizado por outras pessoas de sua cultura. Embora ainda existam algumas dezenas de yagáns pela América do Sul, as pessoas da comunidade deixaram de aprender a língua com o passar das gerações.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Nascida em 1928 na Ilha Navarino, uma ilha chilena no extremo sul do Chile, Cristina Calderón morreu vítima de complicações da covid-19. Enquanto estava viva, ela se autointitulou a "última falante do Yagán", uma língua que não tem uma forma escrita — apesar da existência do dicionário criado por ela.
De acordo com os historiadores, o Yagán pode ser considerado um idioma isolado dos demais, uma vez que a origem das palavras é complicada demais para identificar. Calderón morava em uma casa simples na cidade chilena de Villa Ukika, criada pelos yagán nos arredores da região de Puerto Williams.
Nos últimos anos, ela ganhava a vida vendendo meias de malha. O grupo étnico ancestral costumava povoar os arquipélagos do extremo sul da América do Sul, hoje Chile e Argentina, uma área que se aproxima da Antártica. Para muitos locais, Cristina era um símbolo de resistência cultural das comunidades indígenas chilenas.
Em 1993, o Guinness World Records chamou a palavra "mamihlapinatai", derivada do Yagán, de palavra mais sucinta do mundo todo. Embora seja considerada uma das palavras mais difíceis de traduzir no planeta, sua interpretação é bastante bela. O termo foi interpretado por pesquisadores como um "olhar não dito, mas significativo, compartilhado entre duas pessoas durante um momento privado, onde ambos entende o que está sendo expresso". A morte do Yagán seria uma perda significativa para a história da humanidade.