Artes/cultura
10/08/2022 às 09:00•2 min de leitura
Sucesso nos quadrinhos, no cinema e na TV, o Batman foi criado em 1939, mas muito antes dele a figura de um morcego com características humanas já era cultuada. Estamos falando do Camazotz, o deus morcego dos maias que ganhou fama nas histórias contadas pelos indígenas zapotecas de Oaxaca, no atual México.
As primeiras citações à divindade datam do ano 100 d.C., como parte de um ritual da tribo mexicana, mas acredita-se que o mito relacionado à criatura seja muito mais antigo. Especialistas estimam que ela tenha surgido há mais ou menos 2,5 mil anos, na verdade.
De acordo com a mitologia mesoamericana, o Camazotz é uma criatura que vive em cavernas, portas de entrada para o submundo, e é associado à noite, à morte e aos sacrifícios. Geralmente, ele é representado por uma figura antropomórfica com cabeça de morcego e corpo de homem, carregando uma faca em uma das mãos e um coração na outra.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Esse tom sombrio que cerca o “Batman dos maias” também está representado no nome dele, formado pelas palavras da língua k’iche’ kame (morte) e sotz (morcego), ou seja, “morcego da morte”. Os quichés, que atualmente representam 11% da população da Guatemala, eram um dos estados mais poderosos na era pré-colombiana.
Histórias assustadoras envolvendo o deus morcego aparecem em alguns contos da civilização mesoamericana. No livro Popol Vuh, famoso registro da cultura maia, o morcego da morte surge como uma violenta criatura que ataca quem invade o submundo (Xibalba).
Em um dos contos, os gêmeos Hunahpu e Xbalanque, dois heróis da mitologia maia, são desafiados a passar a noite na Casa dos Morcegos (Zotzilaha) e se escondem dos animais em suas zarabatanas. Depois de algum tempo, Hunahpu sai do refúgio para verificar se a manhã havia chegado.
(Fonte: Shutterstock)
Neste momento, ele fica cara a cara com Camazotz, que estava escondido, e acaba decapitado pela figura mitológica. Conforme a lenda, a cabeça de Hunahpu é levada como um presente para outros deuses do submundo, que a usariam em um jogo de bola.
A criatura também é mencionada em outros contos maias, incluindo um sobre o momento em que a humanidade aprendeu a criar o fogo. Neste caso, o morcego teria intermediado um acordo entre as divindades de Xibalba e os primeiros humanos, interessados em lidar com as chamas.
De acordo com o site Ancient Origins, a provável origem da lenda do Camazotz está ligada ao extinto morcego vampiro gigante (Desmodus draculae), antigamente encontrado nas Américas do Sul e Central. Um fóssil descoberto na Venezuela, em 1988, indica que ele possuía uma envergadura 30% maior do que a das espécies atuais.
Além das preguiças, mamutes, ursos e outros animais maiores, os humanos também podem ter sido alvo de ataques do morcego gigante, em algum momento, contribuindo para o surgimento desta e de outras lendas sobre criaturas sobrenaturais.