Saúde/bem-estar
26/10/2022 às 11:00•3 min de leitura
Por muitos anos, os filmes de Hollywood retrataram os Estados Unidos como um lugar quase perfeito. Algumas vezes pela vida das pessoas, em outras pelas oportunidades que o país oferecia aos seus moradores — o chamado sonho americano — ou simplesmente pela liberdade. Porém, por trás das câmeras a realidade era bem diferente.
Durante a década de 1930, na chamada Velha Hollywood, surgiu um projeto que visava censurar as produções entrou em vigor e baniu representações de nudez, beijos lascivos, palavrões entre outros temas. Conhecido como Código Hays, ele afetou inúmeras produções, mas também estimulou que alguns cineastas utilizassem a criatividade para escapar da censura.
Will H. Hays. (Fonte: Wikimedia Commons)
Durante a década de 1920, o cinema produzido em Hollywood era considerado "a frente do seu tempo". Os diretores e produtores investiam em filmes que falavam sobre mulheres empoderadas, consumo de drogas e igualdade social. Porém, desde 1915, a Suprema Corte dos EUA decidiu que os filmes não eram protegidos pela Primeira Emenda.
Na prática, isso significava que a liberdade de expressão não valia para o cinema. Para evitar que os estados ou o governo federal regulassem os filmes, os estúdios de Hollywood optaram por uma autocensura. Foi criada a Associação de Produtores e Distribuidores de Filmes da América (MPPDA, na sigla em inglês) e Will H. Hays, ex-chefe dos correios, foi chamado para presidir a entidade e escrever as regras que deveriam ser seguidas.
Foi assim que nasceu o Código de Produção Cinematográfica, que acabou ficando conhecido como Código Hays. Ele basicamente exigia que os cineastas cumprissem uma série de princípios gerais para receber um selo de aprovação. O código entrou em vigor em 1930 e durou até 1968.
(Fonte: Betty Boop Fandom/Reprodução)
O que se seguiu foram várias barreiras impostas aos diretores, para que evitassem conteúdos que pudessem ser considerados delicados. Nudez, cenas de paixão, beijos lascivos, menções a doenças venéreas, palavrões, crimes retratados positivamente, desrespeito à religião ou à lei, perversão sexual (que, na prática, era qualquer referência à homossexualidade) e miscigenação (relacionamentos inter-raciais) eram alguns dos conteúdos proibidos.
Em 1934, para aumentar o rigor e garantir que as regras estavam sendo seguidas, foi criada a Administração do Código de Produção (PCA). Esse era um selo de aprovação que os filmes deveriam receber antes que fossem circulados.
O Código Hays atingiu quase todas as produções, incluindo desenhos animados. Ainda na década de 1930, as roupas da Betty Boop precisaram ser mudadas de um vestido melindroso para uma saia antiquada, para se adequarem ao código e receber o selo da PCA.
Marilyn Monroe e Tony Curtis em "Quanto Mais Quente Melhor", de 1959. (Fonte: Michael Ochs Archives/Getty Images)
Não demorou muito para que diversos diretores contornassem a censura imposta pelo Código Hays. Em 1939, Victor Fleming manteve o termo damn – que pode ser traduzido como maldito ou maldição, dependendo do contexto – em ...E o Vento Levou (1939). Para isso, ele alegou que a palavra era utilizada no romance original.
Diretores como Otto Preminger continuamente minavam o código, às vezes até zombando dele em seus filmes. Ao mesmo tempo, outros cineastas simplesmente optavam por ignorar o código. Um dos exemplos mais marcantes foi o longa Quanto Mais Quente Melhor de 1959, dirigido por Billy Wilder, que foi um sucesso de bilheteria sem ganhar o selo de aprovação da PCA.
Em 1952, a Suprema Corte concedeu aos filmes o direito à liberdade de expressão. Foi o começo do fim para o Código Hays. Em 1968, a MPPDA abandonou o Código Hays e o substituiu pelo sistema de classificação de filmes, usado até hoje: