Estilo de vida
19/12/2022 às 06:30•2 min de leitura
A discussão sobre o aborto parece hoje um tema tão forte para a Igreja Católica, que é quase como se ele sempre tivesse sido um dos maiores pecados para os seus seguidores. Porém, esta nem sempre foi a realidade.
Embora o aborto seja considerado pecado desde o início do cristianismo, foi somente no século XIX que a Igreja Católica passou a tratá-lo como um pecado maior e excomungar seus praticantes. E o que fez com que isso mudasse? Um pedido do imperador francês Napoleão 3º.
Napoleão III. (Fonte: Wikimedia Commons)
Durante o século XIX, a França enfrentava um problema sério de baixa natalidade. Enquanto a média europeia era de 45 nascidos vivos para cada mil habitantes, a natalidade na França era de apenas 22 (nascimentos para cada mil habitantes). Enquanto no século XVII, o país representava cerca de 40% da população europeia, em 1890 esse número caiu para apenas 12%.
O aborto não era um fator decisivo nessa baixa natalidade. O país vinha de um período político delicado depois da Revolução Francesa. Além disso, a vida na cidade — estimulada pelo êxodo rural em larga escala que o país vivia — costuma ser acompanhado por um número menor de filhos.
Mesmo assim, Napoleão III optou por conversar com o papa Pio 9º, para que o aborto fosse discutido de maneira mais rígida. Também era um momento oportuno para o diálogo. Para Napoleão, era uma oportunidade de se aproximar dos católicos, que estavam perdendo relevância após a Revolução Francesa, mas ainda eram bastante numerosos.
Já a Igreja Católica enfrentava um período conturbado. Os conflitos na península itálica estavam se tornando mais comuns — e resultaram na unificação da Itália em março de 1861. Se unir com um líder de uma importante nação acabou sendo uma saída óbvia para o pontífice obter maior apoio político.
Papa Pio IX. (Fonte: Wikimedia Commons)
De maneira geral, a discussão sobre o aborto na Igreja Católica costuma ser mais moral do que científica. Desde o império romano, ainda em seus primeiros anos, o cristianismo se colocou contrário ao aborto — uma postura bastante ousada em uma sociedade como a greco-romana, que era consideravelmente abortista.
Mas enquanto, até o século XIX, o aborto era considerado um pecado grave, mas sem o mesmo peso que tem atualmente, com o papa Pio 9º o aborto se tornou um pecado gravíssimo — resultando automaticamente em excomunhão. Foi ele quem oficializou para o catolicismo a ideia de que a vida tem início no momento da concepção.
Foi isso que fez com que, em outubro de 1869, o Vaticano publicasse um documento no qual cita o aborto como um pecado que deveria resultar na pena máxima e imediata para a Igreja Católica: a excomunhão. Em 1917, quando é promulgado o primeiro Código de Direito Canônico, a condenação se torna oficial e permanece assim desde então.