Artes/cultura
09/08/2023 às 13:00•3 min de leitura
Pode se dizer que as pessoas gostam paintball porque a prática une tudo o que existe em um jogo de videogame: estratégia, diversão e adrenalina. Nesse combo, ainda é adicionado vantagens que as atividades online não dispõem, como grande interação social, equipamento real e o exercício físico.
Apesar do medo, é engraçado imaginar que o paintball nasceu da obsessão da sociedade por armas, ou, mais especificamente, em atirar uns nos outros. Isso foi fruto do século XIX, quando um duelo entre homens era a maneira de resolver uma discussão. Mesmo com a proibição da prática, isso não impediu que ainda quisessem fazer isso.
No início dos anos 1900, nos Estados Unidos, alguns entusiastas de armas encontraram uma maneira de duelar sem ir parar na cadeia. Eles inventaram balas de cera que poderiam ser disparadas de pistolas antigas, dando origem aos clubes esportivos que faziam duelos simulados.
Esse era o início da história perigosa do paintball.
(Fonte: GettyImages/Reprodução)
No início de 1980, o autor norte-americano Charles Gaines, conhecido por escrever Pumping Iron, entrou em uma discussão com seu amigo Hayes Noel, um corretor de ações da Bolsa de Nova York, sobre se o talento para sobrevivência era um instinto adaptável a qualquer ambiente, ou um padrão de comportamento aprendido. Gaines acreditava que suas habilidades ao ar livre o ajudariam a sobreviver mais do que as de Noel, que era um homem que vivia confinado na cidade grande.
Enquanto procurava por utensílios de reparo para sua casa do campo, o escritor descobriu em um catálogo de produtos agrícolas uma arma chamada Nelspot 007, usada para marcar árvores ou gado com uma bola de gelatina preenchida com tinta à base de óleo. Por ser semelhante à munição, ele achou que seria um ótimo instrumento para testar suas habilidades de sobrevivência.
(Fonte: GettyImages/Reprodução)
Ele então propôs a Noel um duelo armado com a Nelspot em meio à floresta. Gaines saiu vitorioso e eles acharam o experimento tão interessante que decidiram convidar dez amigos e formar um grupo de combate. Eles chamaram a brincadeira de The Survival Game ("O jogo da sobrevivência"), cujo objetivo era que cada jogador coletasse uma das quatro bandeiras de cores diferentes localizadas em uma área protegida com estacas de madeira.
Entre os jogadores, estavam três amigos de Gaines que eram escritores de jornais nacionais e naquele mesmo ano, eles escreveram matérias sobre o novo jogo que Gaines havia criado. Não demorou muito para que o autor fosse inundado com centenas de cartas de leitores de todo o país querendo o "jogo da sobrevivência".
(Fonte: GettyImages/Reprodução)
Percebendo a oportunidade de negócio, os dois amigos formaram a empresa National Survival Game, dedicada à crescente atividade recreativa, padronizando regras para versões individuais e em equipes. Com a ajuda de Bob Gurnsey, um dono de loja de esqui, eles montaram kits com as regras, uma pistola Nelspot 007 e bolas de tinta. Gaines conseguiu fechar um acordo com a Nelson Paint Company para licenciar as armas e munições para fins não agrícolas, colocando a empresa como o primeiro negócio a vender equipamentos de paintball.
Com o sucesso, não demorou muito para que os amigos começassem a licenciar a marca do jogo para franqueados, abrindo campos de paintball e realizando competições organizadas. Em 1982, a National Survival Game já promovia um campeonato mundial de paintball, com os participantes modificando as armas para incluir carga de ação de bomba, carregadores maiores e disparo automático. Essa proeminência da prática foi também responsável por alterar a tinta à base de óleo para água, facilitando a limpeza.
Ao ganhar popularidade ao longo da década de 1980, o paintball também enfrentou muita perseguição. Em Nova Jersey, as pistolas eram consideradas armas de fogo devido a sua capacidade de disparar projéteis em alta velocidade. Foi estabelecido que era necessário um alvará de porte de arma de fogo para que uma pessoa pudesse manusear uma pistola de paintball. E mesmo que tivesse o alvará em mãos, isso não o livrava de problemas legais se acabasse ferindo uma pessoa durante a prática.
(Fonte: GettyImages/Reprodução)
Isso caiu em 1988, quando o entusiasta de paintball Raymond Gong processou John Kaye, procurador-geral do estado e promotor do condado de Monmouth, exigindo que removesse as armas de paintball da Lei de Controle de Armas de Nova Jersey. A defesa provou que o cartucho de CO2 usado na pistola de paintball não era equivalente a um cartucho usado em uma arma de fogo.
E apesar de sua natureza aparentemente agressiva, o paintball tem apenas 0,2 lesões relatadas em cada mil participantes. Um estudo feito pela Sports and Fitness Industry Asssociation indicou que os jogadores profissionais de paintball chegam a gastar até US$ 50 mil por ano em equipamentos, sendo que em 2017 o setor fechou com US$ 169 milhões. Isso mostra que, apesar de não ter uma demanda alta como nos anos 2000, o paintball ainda resiste.