Ciência
19/08/2023 às 08:00•3 min de leitura
Antes da União Soviética entrar em colapso, em 1990, a Guerra Fria já havia despertado a maior avalanche de soldados desertando. Encorajados pelo Ocidente por meio de incentivos monetários, a maioria deles encontrou nas aeronaves o melhor método de fuga do país sem morrer no processo.
Como resultado, grande parte dos desertores que tiveram sucesso em deixar o solo soviético eram pilotos, criando uma imensa dor de cabeça para a Força Aérea Soviética (VVS). Os soldados tiveram como destino vários países, do Vietnã do Norte à Alemanha, mas muitos viram nos Estados Unidos uma oportunidade de asilo — embora sem imaginar o que os esperava.
Em 1976, o piloto Viktor Belenko desertou para os EUA acreditando que a imagem do país era falsa, e acabou levando para os americanos um MiG-25, a aeronave interceptadora mais rápida da história da aviação militar.
Viktor Belenko. (Fonte: Opinion Global/Reprodução)
Descobrir qual era a verdadeira face da propaganda do sonho americano foi só um dos motivos que fizeram Belenko desertar da União Soviética. Há algum tempo, o tenente e piloto do 513º Regimento de Caças da Força de Defesa Aérea Soviética (V-PVO) estava desiludido com a estrutura do sistema comunista.
Aparentemente, esse sentimento cresceu ainda mais durante sua estadia na base Primorsky Krai, em Chuguyevka, um local que precisava de muitos reparos e não tinha infraestrutura adequada para abrigar os pilotos de elite encarregados da defesa aérea do país. Ao fazer sugestões do que era necessário melhorar no ambiente, Belenko foi ignorado pelos superiores.
Sendo assim, não só decidido em abandonar aquela realidade como desvendar se os Estados Unidos não eram uma "estratégia" inventada pela Agência Central de Inteligência (CIA) para enganar os estrangeiros, em 6 de setembro de 1976, Belenko e seu esquadrão decolaram para um voo de treinamento e nunca mais voltaram.
(Fonte: Wikipedia/Reprodução)
A princípio, o tenente seguiu o plano de voo como combinado, mas depois saiu do curso e desceu a 30 metros de altitude para não ser detectado pelos radares soviéticos. Belenko voou mais de 600 quilômetros até encontrar o espaço aéreo japonês. Às 13h10, o radar japonês detectou seu temido MiG-25 e tentou fazer contato, mas o piloto acabou sincronizando seu rádio nas frequências erradas e não conseguiu receber as mensagens japonesas.
Como resultado, o piloto foi perseguido pelo Esquadrão de Caça Tático japonês por tempo o suficiente para acabar com seu combustível, tendo que pousar no Aeroporto de Hakadate, após voar três vezes em círculos. Belenko disparou dois tiros de advertência para o ar e foi preso por violação do espaço aéreo japonês e ameaça com posse de armas.
Em seu depoimento à polícia, Belenko solicitou asilo aos Estados Unidos, mas foi transferido para Tóquio contra a vontade do governo soviético, que havia solicitado que ele fosse devolvido à custódia deles para só depois ser exilado na América.
(Fonte: Amusing Planet/Reprodução)
O nome de Belenko foi parar nas manchetes de todo o mundo — não por sua deserção ousada, mas por dar aos americanos a oportunidade de examinar o infame MiG-25 da União Soviética. Isso porque, em 9 de setembro, o Ministério da Justiça do Japão transferiu a jurisdição da aeronave para a Agência de Defesa, depois a transportou para a Base Aérea de Hyakuri com um Lockheed C-5 Galaxy da Força Aérea dos EUA.
A princípio, os americanos receberam permissão apenas para examinar a aeronave e realizar testes de solo em seu radar e motor. No entanto, mais tarde, as autoridades americanas foram autorizadas a avaliá-lo minuciosamente. Foi assim que eles descobriram que a grande arma dos soviéticos não era tudo aquilo que acreditavam. Além disso, descobriram também que, embora a aeronave pudesse viajar a velocidades impressionantes, não representava necessariamente uma grande ameaça para o Ocidente.
Devido a isso, Belenko adquiriu o status de persona non grata e, perseguida pelo governo soviético, chegou a espalhar uma série de histórias falsas. Em todas as versões, porém, tentaram deixar claro que antes o homem havia sido levado à justiça pelo que fez ao país.
(Fonte: Business Insider/Reprodução)
Por muito tempo, Belenko custou a acreditar que tudo o que via no país era real e não uma estratégia da CIA para impressionar os visitantes estrangeiros. Após receber sua cidadania americana pelo presidente Jimmy Carter, em 1980, e passar por um interrogatório de cinco meses, Belenko atuou como consultor do governo dos EUA e, mais tarde, se tornou engenheiro aeroespacial. Para documentar tudo o que viveu e viu, ele coescreveu uma autobiografia com John Barron, intitulada MiG Pilot: The Final Escape of Lieutenant Balenko.