Obra perdida de Gentileschi é redescoberta em depósito e restaurada

12/10/2023 às 09:002 min de leitura

Uma pintura rara de Artemisia Gentileschi foi redescoberta e restaurada na Inglaterra. A obra, datada do século XVII, estava extremamente desgastada e arquivada sob a autoria de outro pintor. Sua recuperação só foi possível graças a uma pesquisa do King’s Royal Collection, que procura localizar o inventário do rei Charles I.

Um time de historiadores da arte, liderado por Niko Munz, perseguiu o que foi feito das obras de arte de Charles I após a sua execução em 1649. Havia relatos de que o rei possuía sete trabalhos da celebrada artista italiana Artemisia Gentileschi, que foi contratada com seu pai, Orazio Gentileschi, para retratar a sua corte.

Pintura de Artemisia Gentileschi após restauração. (Fonte: Royal Trust Collection/Reprodução)Pintura de Artemisia Gentileschi após restauração. (Fonte: Royal Trust Collection/Reprodução)

Trajetória do quadro até sua redescoberta

O quadro em questão é denominado Susanna and the Elders ("Susanna e os anciões" em português) e narra a história bíblica de Susana, descrita no livro de Daniel — aceito pela Igreja Católica e considerado apócrifo para correntes protestantes. Acredita-se que a pintura tenha sido comissionada por Henriqueta Maria de França, esposa de Charles I e concluída em 1639.

O quadro circulou por alguns palácios, mas depois de 1660 foi transferido para a Somerset House e aparentemente ficou como enfeite sobre lareiras em várias ocasiões. Depois disso foi movido mais algumas vezes, até que foi encontrado e teve sua chegada registrada no Hampton Court Palace em 1862. Nessa época já foi considerado estar em péssimo estado e foi movido para a restauração.

Os processos de restauração da época não eram dos melhores e consistiam em aplicar novos vernizes à pintura, o que contribuiu para o estado com cores muito apagadas na qual o quadro foi encontrado.

O quadro foi resgatado do depósito do Hampton Court Palace, onde estava há mais de 100 anos. Segundo os pesquisadores que o encontraram, ele estava extremamente marrom e descolorido, o que é comum para pinturas com vernizes orgânicos. A pintura, então, foi enviada para o estúdio de Adelaide Izat para restauração e vai ficar em exposição na Royal Collection.

Susanna and The Elders (primeira pintura a esquerda) em exposição na Castelo de Windsor. (Fonte: Royal Collection Trust/Divulgação)Susanna and The Elders (primeira pintura a esquerda) em exposição na Castelo de Windsor. (Fonte: Royal Collection Trust/Divulgação)

O significado da pintura para a autora

Artemisia Gentileschi (1593–1656) foi uma das pintoras mais celebradas de sua época e a primeira mulher aceita na Academia de Belas Artes de Florença. Muitos de seus quadros retratam figuras femininas de histórias bíblicas, mas o quadro de Susanna pode ter um significado especial.

Atermisia foi estuprada por Agostino Tassi, que havia sido contratado por seu pai para lhe dar aulas. O fato gerou um extenso julgamento que acabou com a condenação de Tassi — que mais tarde conseguiu evitar a prisão por uma anulação.

Na história de que inspirou a obra redescoberta, dois anciões chantageiam Susanna para manter relações com eles, caso contrário a denunciariam por adultério, o que levaria a sentença de morte. Susanna nega e luta pela justiça até que sua inocência seja provada.

Artemisia pintou a cena algumas vezes durante a sua vida e os traços e posições dos corpos parecem mostrar a força da luta feminina e a opressão da sociedade, em diferentes épocas.

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