Ciência
10/01/2024 às 09:30•2 min de leitura
Um enorme desenho de quase 55 metros no vilarejo inglês de Cerne Abbas ganhou atenção nesse início de ano. Os pesquisadores Thomas Morcom e Helen Gittos explicaram, em um artigo publicado na revista Speculum no início de janeiro, que a enorme figura pode representar o herói Hércules.
"A clava é a pista", dizem os cientistas no artigo. O chamado "gigante de Cerne Abbas" carrega uma maçã em sua mão direita, algo sempre presente nas representações do semideus grego. "Além de sua clava, ele era mais frequentemente associado ao seu manto de pele de leão, e é provável que um deles estivesse originalmente pendurado no braço esquerdo do gigante", comentam.
O gigante de Cerne Abbas, em Dorset, na Inglaterra. (Fonte: Matt Cardy/Getty Images)
O artigo ainda compara a postura frontal da figura em Dorset com uma escultura do século III, em que Hércules segura a Hidra. Os pesquisadores também analisam extensamente a postura e o posicionamento da clava na mão direita, que aparece em diversas outras representações do herói grego.
Representações de Hércules foram usadas em artigo para comparação com a figura de Cerne Abbas. (Fonte: Wikimedia Commons)
Apesar das semelhanças, o desenho de seu pênis ereto é incomum, dizem os cientistas. Ainda assim, existem exemplos de imagens desse teor encontradas no Reino Unido. "Hércules sempre foi complexo. Ele era um modelo de virilidade, coragem e força física e mental", explicam.
Morcom e Gittos dizem parecer "claro" que o Gigante de Cerne é uma imagem de Hércules, "carregando sua emblemática clava acima da cabeça, com a mão esquerda estendida, provavelmente já tendo o manto [de leão] estendido sobre ela, seguindo as tradições iconográficas locais".
(Fonte: Wikimedia Commons)
Morcom e Gittos disseram ter sido motivados a entender melhor a criação após surgirem novas evidências da época em que o desenho foi feito. Segundo informações divulgadas em 2021 pelo National Trust — o Fundo Nacional para Locais de Interesse Histórico ou Beleza Natural para a Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte —, o contorno teria sido feito no início da Idade Média.
Martin Papworth, arqueologista sênior do National Trust, liderou a pesquisa iniciada em 2020 para datar o período do desenho. Ele utilizou a técnica da luminescência opticamente estimulada (LOE ou OSL, na sigla em inglês), aplicada para medir doses de radiação ionizante. A preparação para o experimento exige a remoção de camadas superficiais que tenham sido previamente expostas à luz.