Ciência
26/04/2024 às 14:00•3 min de leituraAtualizado em 26/04/2024 às 14:00
Você talvez nunca tenha imaginado um doce feito com ingredientes usualmente característicos de pratos salgados, mas saiba que existem sobremesas clássicas pelo mundo elaboradas utilizando carne e seus derivados. A existência deles demonstra que nossa concepção sobre guloseimas pode ser menos completa do que pensamos.
O universo das sobremesas é um espaço no qual a criatividade impera e não há limites. Cada canto do mundo utiliza ingredientes, típicos ou não, para criar pratos deliciosos. E no mínimo devemos imaginar que a combinação entre carne e açúcar deva ter seu charme, do contrário, dificilmente os pratos abaixo seriam tão apreciados.
A Turquia é um país com uma história incrível – e uma gastronomia que faz jus. Em turco, tavuk gögsü significa "peito de frango", e não à toa é o nome de um pudim típico de lá, feito com doce de leite e frango. O passado do doce remonta ao período romano durante o século V. Livros de receitas antigos descrevem um pudim muito semelhante. Dele teria derivado o manjar branco, que ganhou versões diferentes na Europa medieval.
Durante a tomada de Constantinopla pelos otomanos, em 1453, o tavuk gögsü foi inserido na cultura local e segue sendo apreciado até hoje – ainda que haja uma versão sem a carne de frango. Especialistas no prato indicam que o segredo é usar um frango fresco, que será cozido com leite e açúcar.
Também com origem distante está o khoresh mast, sobremesa típica do Irã desde o tempo do império persa. Pratos khoresht costumam ser servidos com arroz, exceção feita ao khoresh mast, que, em tradução livre, seria algo como "ensopado de iogurte", uma guloseima que também pode ser acompanhamento de pratos salgados. A carne utilizada vem do pescoço do cordeiro, e é utilizada para dar textura ao prato, não sabor.
A carne de cordeiro é cozida até ficar macia o suficiente para ser batida e se tornar uma pasta. Ela é misturada com um iogurte espesso, açúcar, água de rosas, açafrão e cardamomo, que lembra uma espécie de mousse dourado. É resfriado e recebe frutas secas e nozes antes de ser servido.
Nos países asiáticos, é muito comum que alguns pratos sejam direcionados para ocasiões especiais. É o caso do mutajan, característico da Índia e do Paquistão. Com origem que remonta ao período medieval, era uma forma de se referir a pratos fritos consumidos pelos nobres.
Atualmente, é um doce feito com arroz açucarado, açafrão, carne (geralmente de cordeiro) e iguarias doces variadas. Até os dias atuais, é uma iguaria luxuosa, que além de nozes e frutas secas, costuma ser decorado com folhas de prata. Sua versão sem carne tem se tornado mais comum, sendo reservada a tradicional para ocasiões como casamentos.
Mince pie é outro doce que sofreu a ação do tempo. Característico do Natal, essa sobremesa inglesa era tradicionalmente feita com açúcar, gordura bovina, frutas cristalizadas e secas, além de carne moída, tanto bovina como de carneiro. Livros de receitas históricos do Reino Unido se referiam ao prato como "tortas de carne".
Historiadores sugerem que a mince pie teria origem no mundo islâmico medieval, chegando à Inglaterra durante as cruzadas. Já na Era Vitoriana, com a popularização do açúcar, a carne foi, aos poucos, sendo retirada da receita.
A tendência por alimentos mais saudáveis e com baixo teor de gordura ganha contornos durante os anos 1990. As vendas de carne diminuíram globalmente, o que levou a indústria produtora a lançar inúmeras campanhas de marketing usando bacon. O auge foi a criação do donut maple bacon, uma rosquinha glaçada com xarope de bordo (maple) e decorada com fatias de bacon crocante.
A busca por refeições mais equilibradas segue até hoje, o que arrefeceu a "bacon mania". Porém, o donut maple bacon se tornou um doce característico nos Estados Unidos e Canadá, onde faz parte do cardápio de redes que comercializam rosquinhas.