Saúde/bem-estar
17/10/2024 às 14:52•2 min de leituraAtualizado em 18/10/2024 às 15:57
Desde os bancos escolares, aprendemos que as cidades mais antigas do mundo ficavam na Mesopotâmia, região considerada o berço da civilização entre os rios Tigre e Eufrates. Muitas vezes, decoramos seus nomes esquisitos (Eridu, Nippur e Uruk) para alguma prova do que se chamava História Geral, todas construídas por volta do quinto ou sexto milênio a.C.
Outras cidades, como Çatalhöyük na Anatólia (hoje Turquia) e Jericó na Cisjordânia, são frequentemente citadas como exemplos de primeiros assentamentos urbanos organizados, com direito a sistemas administrativos complexos, registros escritos e leis codificadas.
Mas esses conceitos estão prestes a cair, à medida que diferentes arqueólogos vêm pesquisando assentamentos que já existiam antes da fundação dessas cidades. No entanto, nenhum deles está na Mesopotâmia, mas na Ucrânia. Diferentes pesquisas mostram o mesmo material antigo, mas ainda não chegaram a um acordo sobre as narrativas envolvidas.
Os primeiros indícios das antigas cidades ucranianas surgiram na década de 1960, quando um topógrafo militar soviético chamado Konstantin Shishkin examinava fotos aéreas tiradas da Ucrânia, então parte da União Soviética.
Ele observou mais de 250 sombras de estranhas formações concêntricas, depois identificadas como ruínas arqueológicas, em um terreno maior que 400 campos de futebol padrão. Usando sensores que medem variações no campo magnético da Terra (geomagnetismo), cientistas ucranianos se depararam com vários assentamentos antigos maciços, construídos em círculos.
Vários pesquisadores chegaram à região e atribuíram os restos arqueológicos à cultura Cucuteni-Trypillia, uma das maiores e mais avançadas civilizações da Europa pré-histórica, que ocupou a região entre 5500 a.C. e 2750 a.C. Um dos principais especialistas da área, o arqueólogo Johannes Müller, da Universidade de Kiel, na Alemanha, chegou aos assentamentos Cucuteni-Trypillia em 2011.
Os resultados geomagnéticos do megassítio de Trypillia apresentam assentamentos redondos ou ovais, com casas ordenadas em anéis concêntricos divididos por corredores largos. A organização sugere um planejamento que incluiu demarcação prévia. “A arquitetura é reminiscente de Lego, era um sistema modular”, compara Müller no Neue Zürcher Zeitung.
As casas eram construídas com estruturas de madeira e barro, muito parecidas com as atuais construções em enxaimel, uma técnica trazida ao Brasil por imigrantes alemães. As moradias eram uniformes em tamanho, com cerca de 5 metros de largura por 14 metros de comprimento.
Com a pesquisa ainda em andamento, Müller e sua equipe buscam mais indícios capazes de esclarecer alguns dos aspectos ainda incompreensíveis da cultura Cucuteni-Trypillia, principalmente aqueles relacionados ao seu declínio. Outra pesquisadora, Regina Uhl, do Instituto Arqueológico Alemão, prefere chamar os assentamentos de “estruturas sociais complexas” em vez de considerá-los cidades.