Estilo de vida
12/09/2024 às 12:00•2 min de leituraAtualizado em 12/09/2024 às 12:00
Quando pensamos em megaestruturas antigas como Stonehenge ou as pirâmides, é fácil sentir um certo desconforto. Afinal, como pessoas que viveram antes de desenvolvermos a matemática e a engenharia foram capazes de criar monumentos que não apenas resistem ao tempo, mas superam nossas construções modernas? Um exemplo disso é Menga, um dólmen pré-histórico no sul da Espanha que desafia as noções de tecnologia e conhecimento dos nossos ancestrais.
Basta procurar um pouco pela internet para encontrar teorias da conspiração que ligam essas construções a alienígenas — o que está completamente errado. Contudo, um estudo recente sugere que nossos ancestrais eram muito mais inteligentes e habilidosos do que imaginamos. "Nenhum engenheiro hoje seria capaz de construir esse monumento com os recursos disponíveis há 6 mil anos", afirmou Leonardo García Sanjuán, pesquisador da Universidade de Sevilha, em entrevista à Science.
O dólmen de Menga, uma gigantesca estrutura de pedra, foi erguido por volta de 4.000 a.C. usando uma técnica engenhosa. Sem o auxílio de materiais modernos, como cimento, os construtores neolíticos criaram uma espécie de "Tetris" de pedras gigantes, pesando até 1.140 toneladas, que se encaixam com alta precisão. "Os blocos foram colocados de forma que se sustentam mutuamente", explica Sanjuán. Esse sistema de apoio mútuo mostra o conhecimento de física e geometria dos construtores daquela época.
A pedra usada para erguer Menga foi retirada de pedreiras a cerca de 850 metros do local. O fato das rochas serem frágeis e exigirem cuidado no transporte já indica um entendimento profundo das propriedades físicas dos materiais. Além disso, as pedras foram colocadas em ângulo no solo para maximizar sua resistência, demonstrando o uso estratégico da gravidade e do atrito.
Esse conhecimento sobre as propriedades das rochas, aliado à noção de física elementar, revela que os construtores antigos não dependiam apenas de força bruta. A escolha cuidadosa dos materiais e o uso inteligente dos recursos naturais mostram que eles tinham uma compreensão avançada do ambiente e de como manipulá-lo para atingir seus objetivos.
Menga também impressiona pela incorporação de geometria e astronomia em seu projeto, visto no uso de ângulos obtusos e retos nas faces das pedras. Embora a matemática e a ciência formalizadas ainda não existissem, essas estruturas são uma prova de que os construtores dominavam conceitos fundamentais que hoje fazem parte das ciências exatas.
Outro ponto surpreendente é o sistema de impermeabilização da estrutura. Em vez de materiais modernos, os construtores usaram pequenas pedras e solo para criar uma camada protetora. Sem essa barreira, as rochas porosas teriam sido corroídas pela chuva ao longo dos milênios, comprometendo a estrutura.
O ponto alto da engenharia, no entanto, é a pedra angular número 5 — usada no topo da construção —, que pesa impressionantes 150 toneladas. Segundo os pesquisadores, essa pedra convexa é o "primeiro arco de descarga construído por seres humanos".
De acordo com os especialistas, a estrutura mostra como esses monumentos representavam não apenas a engenhosidade dos povos antigos, mas também um avanço significativo na ciência humana. "Menga representa um feito monumental de engenharia e um marco no avanço da ciência humana, destinado a durar por milênios", concluíram os pesquisadores.