Estilo de vida
30/10/2024 às 21:00•3 min de leituraAtualizado em 30/10/2024 às 21:00
Você tem medo das bruxas? Se a sua resposta é não, fique tranquilo: você divide a mesma percepção que a maioria das pessoas. É que, há um bom tempo, as bruxas foram assimiladas pela cultura popular.
Desde o fatídico (e terrível) episódio com as chamadas bruxas de Salem, muita coisa mudou na representação dessas mulheres com supostos poderes sobrenaturais, que hoje podem aparecer em vários lugares até mostrando suas facetas boazinhas.
O período mais sombrio na visão sobre as bruxas ocorreu entre 1692 e 1693, quando cerca de 200 pessoas foram acusadas de bruxaria durante o período colonial no estado de Massachusetts. Dessas pessoas, vinte acabaram sendo mortas e cinco faleceram na prisão.
O conhecido episódio histórico das bruxas de Salem é tido até hoje como o pior momento de caça às “bruxas” – que, normalmente, eram apenas mulheres comuns acusadas de fazer “feitiços”, sem qualquer tipo de prova consistente.
Rachel Christ-Doane, que tem um mestrado em história e estudos de museus na Tufts, diz que muita coisa mudou desde então. "Os julgamentos de bruxas têm muito a nos dizer sobre o comportamento humano e sobre a maneira como tratamos as pessoas, principalmente as pessoas que não são como nós", declarou ao portal Futurity.
Christ-Doane explica que, na época da América colonial, o uso da palavra bruxa passou a descrever uma ofensa criminal. “É uma pessoa que se acredita ter vendido sua alma ao diabo em troca de poderes sobrenaturais. Acredita-se que as bruxas pratiquem magia para machucar as pessoas ao seu redor”, pontua.
Não havia até então qualquer possibilidade de uma bruxa ser uma pessoa boa, e nem bela. Elas passam então a representar um inimigo que estaria escondido dentro de uma comunidade, sempre à espreita.
Esse tipo de percepção, aliás, teria se iniciado por volta de 1400. “Foi quando a caça às bruxas começou para valer na Europa, já que a igreja cristã havia decretado naquela época que toda magia é derivada de demônios e que o diabo está travando uma guerra contra a sociedade cristã”, afirma.
As bruxas costumam ser evocadas na cultura principalmente em situações de crise, e é claro que isso passa pelo estigma das mulheres tidas como “complicadas”: como as mais pobres que argumentam muito, as que têm filhos fora do casamento ou que vivem sem um homem ao lado. Esse padrão se repete, inclusive, entre as acusadas em Salem.
Rachel Christ-Doane afirma que, com o tempo, o pensamento em torno das bruxas começou a “evoluir”, e tornou-se mais possível imaginar uma bruxa com traços positivos. Ela defende a ideia de que isso se iniciou no século 19, quando a cultura pop passou a difundir produtos como cartões postais de Halloween e anúncios em que as bruxas aparecem como mulheres bonitas e sensuais.
Então, em 1900, L. Frank Baum publica o livro O Maravilhoso Mágico de Oz, que traz duas bruxas boas: Glinda e a Bruxa Boa do Norte. São as primeiras bruxas boas a aparecer na literatura. Posteriormente, nos anos 1960 e 1970, a série A Feiticeira cria uma personagem que vira queridinha do público em geral.
Nos anos 1990, segundo explica Rachel Christ-Doane, as bruxas vão se tornando cada vez mais populares. As razões são principalmente duas: os movimentos das mulheres, como o feminino, e a retomada de religiões neopagãs, como Wicca. Essa representação mais “madura” das bruxas passa a aparecer em filmes e séries como Harry Potter, Sabrina, a Bruxa Adolescente e Buffy, a Caça-Vampiros.
E foi assim que, passado longos séculos, finalmente as bruxas perderam o posto único de entidades assustadoras e ganharam outras faces. E pouco importa se elas existem ou não: elas seguem mesmo assim fascinantes. É como diz aquela famosa frase: “yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay”.