Estilo de vida
14/09/2024 às 03:00•2 min de leituraAtualizado em 14/09/2024 às 03:00
Em 1514, na pequena cidade de Tarquinia, na Itália, uma multidão se reuniu em um alvoroço. Todos estavam desesperados para ver algo que jamais tinham presenciado antes: Hanno, um elefante indiano presenteado ao Papa Leão X. O animal logo se tornou uma sensação, mas sua jornada até Roma foi marcada por adversidades que revelam uma triste realidade: o desejo humano por status e entretenimento frequentemente vem à custa do bem-estar animal.
A viagem de Hanno até Roma começou na cidade de Kochi, na Índia, controlada pelos portugueses. Foi um trajeto longo e árduo, que expôs o elefante a condições climáticas severas e ao estresse constante de multidões curiosas.
Hanno nasceu por volta de 1510 em Kochi, no sudoeste da Índia, onde os portugueses haviam estabelecido um forte. Comprado pelo rei Manuel I de Portugal como presente para o Papa Leão X, ele foi treinado por mahouts, cuidadores indianos especializados em elefantes. Em 1511, foi colocado em um navio e iniciou sua longa e difícil viagem rumo à Europa. Sob o sol forte e a chuva, Hanno ficou amarrado no convés, longe do conforto de sua terra natal.
A travessia, que durou cerca de seis meses, foi apenas o início dos desafios. Assim que chegou à Europa, Hanno continuou sua jornada em direção a Roma, parando em várias cidades pelo caminho. Nessas paradas, multidões de curiosos cercavam o navio para ver o elefante, e a tripulação precisou tomar medidas para proteger o animal do assédio constante. Cada nova parada representava mais estresse para Hanno, que já estava sofrendo com o cansaço e o desgaste físico.
Ao chegar à Itália, a situação não melhorou. A estrada difícil e o terreno acidentado machucaram seus pés, uma parte crucial para a saúde de qualquer elefante. Hanno precisava de longas paradas para se recuperar, mas o frenesi ao redor dele tornava o descanso impossível. As multidões seguiam o elefante em todas as partes, e o sofrimento físico do animal só aumentava.
Na Europa do século 16, elefantes eram símbolos de prestígio e poder. Reis e papas os exibiam em desfiles, como forma de demonstrar sua influência global. No entanto, embora esses animais fossem tratados como troféus, sua saúde e bem-estar eram frequentemente negligenciados. Hanno, apesar de ser o favorito do Papa Leão X, só sobreviveu dois anos em Roma. Ele foi tratado pelos melhores médicos da cidade, mas vi sua saúde piorar drasticamente com o tempo.
Mesmo sendo considerado um símbolo de grandeza, Hanno não resistiu aos cuidados inadequados e morreu em 1516, quando tinha apenas 6 anos. Isso representa um contraste doloroso entre o valor que os humanos davam ao elefante como uma peça de prestígio e o pouco que realmente sabiam sobre como cuidar dele. A falta de conhecimento sobre as necessidades desses animais acabou selando o destino do animal.
Ainda hoje, a exploração de elefantes como símbolos de status continua, apesar dos avanços no conhecimento sobre sua biologia e comportamento. Muitos desses animais são retirados de seus habitats naturais e de suas famílias, apenas para satisfazer os caprichos humanos. Isso reforça uma triste realidade: séculos se passaram, mas a exploração animal para entretenimento e ostentação permanece presente.