Ciência
17/06/2018 às 10:00•2 min de leitura
As pessoas têm medo de envelhecer. Pesquisas realizadas em todo o mundo com indivíduos de diferentes idades mostram que um dos temores mais frequentes na fase adulta é chegar à terceira idade. Um livro recente do Dr. Marc E. Agronin, dos Estados Unidos, foi lançado justamente para desmistificar essa etapa da vida e provar que, em vez de nos sentirmos mais cansados e menos inventivos, na terceira idade podemos nos mostrar mais criativos.
O argumento do autor no livro "O fim da velhice: vivendo uma vida mais longa e com mais propósito" [The End of Old Age: Living a Longer, More Purposeful Life] é o de que, desprendidos de todas as inseguranças que nos afligem quando somos mais novos — entre elas, inclusive, o medo do envelhecimento — e mais sábios, graças a tudo o que aprendemos ao longo da vida, podemos investir em nossa própria criatividade. A gente só precisa acreditar nisso e realmente inovar.
Um dos exemplos nos quais o livro se baseia para ilustrar essa ideia é justamente o de uma pessoa que revolucionou o mundo da arte anos depois de ter completado os temidos 70. O pintor francês Henri Matisse realizou uma parte importante da sua obra depois de já idoso, acometido por uma doença que os médicos juravam que tiraria sua vida em pouco tempo, mas que, em vez disso, tirou os movimentos de suas pernas e agitou sua mente.
Do diagnóstico de câncer até sua morte, se passaram quase 11 anos, período em que o artista plástico desenvolveu uma nova técnica de pintura — a do desenho com tesoura. Com recortes de papel entre as pinturas, ele criou obras incríveis, participou de inaugurações e retrospectivas e, ainda, assinou os estonteantes vitrais azuis da Chapelle du Rosaire de Vence, inspirado justamente em sua enfermeira, Monique Bourgeois.
Com tempo de sobra e confinado em uma cama de hospital por vários meses, Matisse transformou sua projeção de 6 meses de vida em mais de uma década de alta produtividade, com novas obras nas quais depositava inspirações da infância e juventude, bem como de diferentes memórias, culturas e lugares.
Sua obra era tão viva e cheia de cores e movimento que foi considerada um verdadeiro marco para a época, inspirando artistas que vieram décadas depois e lançando bases para artistas focados não somente na pintura. Segundo o autor do livro, a maneira como Matisse conduziu seu trabalho nessa fase diz muito sobre a terceira idade.
"Em primeiro lugar, seus recortes foram simultaneamente uma expressão de continuidade de todo o seu trabalho anterior, ao mesmo tempo que eram uma nova abordagem radical da arte. Em segundo lugar, havia um espírito de ousadia e liberdade em suas obras que as tornava absolutamente atraentes em comparação com qualquer coisa que tivesse vindo antes. Para o próprio Matisse, estava claro que a força secreta que permitia essa partida era o envelhecimento."
Ele explica ainda que, em uma das milhares de cartas que escreveu no período, Matisse confessou:
Mesmo se eu pudesse ter feito, quando era jovem, o que estou fazendo agora — eu não teria me atrevido.
Essa coragem para se libertar de quaisquer amarras que ainda existam mesmo depois de tantas décadas vividas é o que permite às pessoas alcançarem níveis de criatividade nunca antes possíveis. Isso, somado ao tempo livre, à leveza da vida sem deadlines e à soltura de dizer o que se quer, é o que pode dar ao mundo nossos próximos Matisses.
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