Registros de navios centenários expõem alerta no Ártico

02/10/2019 às 08:003 min de leitura

Antes mesmo dos anos 1920, grandes barcos cortadores navegavam pelos mares gelados do Ártico. Em 1919, um dos precursores da Guarda Costeira atual estava a caminho do Norte, o Alasca de hoje. O Bear carregava suprimentos e pessoas, encontrando gelo pesado pela frente sem que os tripulantes sequer imaginassem como o visual do lugar mudaria com o aquecimento global no futuro. O gelo era tão denso e grosso que o barco precisou parar e esperar o vento mudar.

Nos registros antigos é possível conhecer a realidade quando o que encontravam era gelo, muito gelo. O navegador escreveu como o gelo sólido formou uma barreira impenetrável sem permitir que o barco avançasse. O meteorologista canadense aposentado Michael Purves transcreveu as anotações manuscritas do diário e contou como o Bear se viu preso esperando a mudança de vento em um Ártico completamente diferente e ainda intacto, sem os efeitos do aquecimento global.

A missão de cortadores, como o Bear, era proteger os tripulantes e as propriedades que transportava no mar, além de levar suprimentos médicos para as comunidades nativas, incluindo aquelas devastadas pela epidemia de gripe espanhola da época. Seus manuscritos possuem um valor alto hoje em dia, uma vez que fornecem informações importantes sobre como o gelo marinho sofreu os impactos do clima quente.

Bear ancorado no Alasca, em 1918 - Foto: U.S. Guard Coast

Os cientistas tiveram a ajuda da tecnologia para conseguir acesso facilitado aos antigos manuscritos. Antes acessíveis apenas nos Arquivos Nacionais, agora eles podem ser consultados por cientistas que se debruçam sobre as condições do oceano, especialmente do gelo no Ártico, graças à imagem digital e ao minucioso trabalho de voluntários como Purves, que se dedicaram a esse trabalho de digitalização.

Antes disso, as estimativas de perda de gelo consequente do aquecimento global no Ártico só era possível consultando base de dados obtidas com imagens de satélite a partir de 1979. Com isso, até puderam estimar como era o Ártico há um século, mas antes dos manuscritos não havia como comprovar se os cálculos estavam corretos.

Manuscritos fornecem informações detalhadas para cientistas

Com as informações recolhidas nos registros antigos, é possível corroborar os modelos gerados pelo Sistema de Modelagem e Oceano de Gelo Pan-Ártico da Universidade de Washington, dizem os cientistas. Ou seja, os registros confirmam que o aquecimento global tem gerado uma perda de gelo no mar do Ártico sem precedentes.

O pesquisador do Instituto Conjunto para o Estudo da Atmosfera e do Oceano — parceria entre a Universidade de Washington e a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica — Kevin Wood afirma que a taxa atual de desaparecimento do gelo no Ártico “é a mais alta desde o século passado”. Para ele, os registros são ainda mais valiosos porque nunca foram utilizados. O artigo no qual ele e o cientista de gelo marinho do Laboratório de Física Aplicada da Universidade de Washington, Axel Schweiger, foi publicado no Journal of Climate.

Diário de bordo do Bear, em 1915 - Foto: National Archives

“Os esforços anteriores se concentraram em gravações meteorológicas ou temperaturas do oceano. Os transcritores realmente tiveram que ler textos difíceis de decifrar e procurar termos relacionados ao gelo marinho. Eu acho que isso é novidade”, disse Schweiger.

As notas de navegação transcritas e utilizadas pelos cientistas são muito completas, com isso, é possível identificar muitos detalhes, como a posição do navio, o que pode ajudar a caracterizar com mais precisão o tipo de gelo encontrado pela tripulação, como pedaços finos, espalhados, placas maiores, pedaços impenetráveis, entre outros. “Eles fornecem um nível de detalhe não encontrado em nenhum outro lugar”, afirma Wood.

O cientista acredita que quando o trabalho estiver concluído será possível aprender muito mais sobre o gelo marinho, o aquecimento global e como ele foi crucial para a quase extinção — se não total extinção — de grandes icebergs no Ártico.

Diário de bordo do cortador Northwind, em 1955 - Foto: National Archives

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