Artes/cultura
15/04/2020 às 09:00•2 min de leitura
Conforme a pandemia coronavírus continua a se espalhar pelo mundo, o número de fatalidades continua a aumentar, especialmente entre uma parcela já vulnerável das populações de muitos países: os negros.
Nos Estados Unidos, uma análise recente da Associated Press serviu como uma das primeiras tentativas de examinar as disparidades raciais dos casos e mortes da covid-19 pelo país. Das vítimas cujos dados demográficos foram compartilhados publicamente pelas autoridades, cerca de 3.300 dos 13 mil falecimentos, os afro-americanos representavam cerca de 42% dos mortos. Uma porcentagem preocupante, já que os negros representam por volta de 21% da população total nas áreas cobertas pela análise.
(Fonte: AP Photo/Charles Rex Arbogast/reprodução)
Um dos motivos por trás disso não é algo novo. A longa história do racismo sistêmico e desigualdade no acesso a cuidados de saúde e oportunidades econômicas tornou uma grande parte da população afro-americana muito mais vulneráveis ao vírus.
Adultos negros sofrem com taxas mais altas de obesidade, diabetes e asma, o que os tornam mais suscetíveis. Além disso, eles também costumam relatar que os profissionais médicos levam suas doenças menos a sério quando procuram tratamento.
Outro fato importante é que grande parte dos afro-americanos e membros de algumas etnias consideradas como minorias contam com uma vulnerabilidade adicional, eles trabalham em serviços considerados essenciais como: funcionários de mercados, auxiliares de enfermagem, profissionais de limpeza, funcionários de transporte público, entre outros. Isso os força a sair e lidar com público geral em um momento em que outros estão sob ordens estritas de ficar em casa.
(Fonte: AP Photo/Frank Franklin II/Reprodução)
Tina Sacks, professora assistente da Escola de Bem-Estar Social e presidente do Centro de Pesquisa sobre Mudança Social da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, é especialista em disparidades raciais em saúde e assistência médica. Ela também trabalhou no Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) por quase 10 anos, inclusive durante o surto de SARS (síndrome respiratória aguda grave).
Quando questionada sobre outras razões do forte impacto da covid-19 na comunidade negra, Sacks explicou que as décadas de segregação racial também foram essenciais para o problema.
(Fonte: AP Photo/Charles Rex Arbogast/Reprodução)
“Bairros negros normalmente têm menos âncoras institucionais, como supermercados, boas escolas e lugares seguros para sair e se exercitar. Os negros são desproporcionalmente expostos a toxinas ambientais internas e externas em suas casas e bairros. Além de serem mais propensos a crescer na pobreza, a viver em moradias precárias, a frequentar escolas com poucos recursos e a acabar no sistema carcerário. Tudo isso causa um terrível impacto na saúde das pessoas negras ao longo da vida, tornando-as mais propensas a ter condições crônicas - como diabetes, asma e hipertensão - que as tornam mais vulneráveis à covid-19”, afirmou a professora.
Por mais que os dados apresentados acima tenham sido coletados exclusivamente nos Estados Unidos, não é difícil estabelecer uma comparação com a realidade brasileira. A verdade é que muito ainda precisa ser debatido e resolvido, para garantir a segurança e bem-estar de toda a população, e não apenas de uma parte dela.