Ciência
30/06/2020 às 08:00•2 min de leitura
Almoçando no refeitório do Laboratório Nacional de Los Alamos, o físico Enrico Fermi pensava em relatórios sobre avistamento de objetos voadores não identificados (OVNIs); de repente, levantou os olhos do prato e perguntou: "Onde estão todos?". Algo parecido com o Paradoxo de Fermi (a contradição entre a falta de evidências de civilizações extraterrestres e a alta probabilidade matemática de elas existirem) surgiu em um artigo do The Astronomical Journal: se a Via Láctea teria 6 bilhões de planetas Terras, mas apenas 1 se parece com o nosso (o Kepler-1649c), onde estão os outros?
O Kepler-1649c, único exoplaneta parecido com a Terra, entre mais de 4mil catalogados.
Os astrofísicos de exoplanetas da Universidade da Colúmbia Britânica, Michelle Kunimoto e Jaymie Matthews, definiram como "padrão Terra" planetas com tamanho entre três quartos e 1,5 vez o do nosso, orbitando uma estrela a uma distância entre 0,99 e 1,7 vez o espaço entre nós e o Sol. Esses critérios, aplicados em nosso sistema solar, só são atendidos pela Terra; os candidatos que não passam por pouco são Marte (muito pequeno) e Vênus (muito perto do Sol).
Corpos aprovados com louvor devem coalhar a Via Láctea, mas (ainda) não temos meios eficientes para detectá-los diretamente. Para determinar se uma estrela tem planetas a orbitá-la é preciso registrar pelo menos três vezes o trânsito de cada um, e isso se faz através da variação do brilho do sol em questão.
Sóis amarelos são apenas 7% entre cerca de 400 bilhões de estrelas da Via Láctea. O tipo mais comum é a anã vermelha, capaz de incinerar planetas em sua órbita. Zonas habitáveis ocupariam as extremidades desses sistemas, o que faria com que seus planetas levassem centenas de dias para completar suas órbitas em torno da estrela. Para serem detectados ao menos três vezes, eles precisam ser observados continuamente por anos.
Como uma maneira de refinar a busca por candidatos a Terra 2.0 na lista de exoplanetas encontrados, foi usado o método desenvolvido em 2018 pelo astrônomo da Universidade Estadual da Pensilvânia, Danley Hsu. Os planetas foram divididos em categorias segundo tamanho e órbita. A nova classificação difere do catálogo oficial, estruturado com os dados coletados pelo telescópio espacial Kepler.
A ilustração mostra como o Kepler-1649c poderia ser.
O estudo estipula que, por alto, uma em cada cinco estrelas amarelas na Via Láctea poderia ter em seu sistema uma Terra (em uma estimativa mais modesta, a proporção cai para uma em dez). "Esse número ainda é um pouco grosseiro, mas é mais restrito do que os estipulados em trabalhos anteriores, que sugeriam 1 Terra para 50 sóis", reconhece Kunimoto.
"Os planetas realmente semelhantes à Terra não estão se escondendo; a sensibilidade de nossos telescópios ainda não é boa o suficiente para encontrar aqueles que são iguais à Terra", disse ao site Popular Science o astrobiólogo da Universidade Técnica de Berlim, Dirk Schulze-Makuch.
Ele adverte, porém, que "os critérios limitados de órbita, tamanho e tipo de estrela dizem muito pouco sobre os planetas: se eles têm atmosferas protetoras, blindagem magnética ou água, o que é necessário para a vida emergir". Segundo Schulze-Makuch, o maior trunfo do novo trabalho é promover o refinamento das buscas através de instrumentos que examinem mundos individualmente, e não por amplas varreduras, como no método hoje empregado.
"Usando a tecnologia que temos agora, estamos a anos-luz de descobrir uma verdadeira Terra 2.0, feita perfeitamente para sustentar vida como a nossa", defendeu Schulze-Makuch.
Estudo mostra por que é tão difícil achar planetas iguais à Terra via TecMundo