Estilo de vida
10/07/2020 às 14:30•2 min de leitura
O sumiço de aviões, embarcações e até de pessoas no Triângulo das Bermudas intriga pessoas do mundo todo há muito tempo. Teorias da conspiração envolvem abduções extraterrestres e capturas realizadas por habitantes de Atlântida, a ilha perdida. No entanto, existe uma região semelhante no espaço em que coisas estranhas acontecem e para as quais astrônomos acreditam ter uma explicação lógica e totalmente ligada à Física como conhecemos. Segundo eles, ao menos por lá, na chamada Anomalia do Atlântico Sul, tudo está ligado ao campo magnético terrestre.
Ao passarem pelo local, equipamentos eletrônicos sofrem estragos. Não é como se eles se desintegrassem, mas, ainda assim, a perturbação causada é séria o suficiente para gerar problemas a sistemas e a tripulações. Isso porque, estendendo-se do Chile ao Zimbábue, está localizado o ponto onde o cinturão de radiação Van Allen interno se aproxima da Terra – justamente onde ocorrem vários fenômenos atmosféricos devido à concentração de partículas.
Área de “mergulho” de campo magnético recebe mais radiação.
Responsável pela proteção do planeta, retendo radiação solar demasiada, no Triângulo das Bermudas Espacial, o escudo fornecido pelo cinturão é relativamente fraco e acaba permitindo que raios solares cheguem a 200 quilômetros da superfície terrestre – resultando no aumento do fluxo de partículas energéticas nessa área. “Não sou muito fã desse apelido, mas é fato que, por lá, a vulnerabilidade de satélites é muito maior”, afirma John Tarduno, professor de Geofísica na Universidade de Rochester. “Pense em uma descarga elétrica ou um arco elétrico. Com mais radiação, equipamentos podem sofrer sobrecargas, resultando em danos graves”, ele afirmou.
A Anomalia do Atlântico Sul se encontra em uma altitude de mil a 60 mil quilômetros e, nas partes mais baixas, está na rota de alguns satélites que são bombardeados por prótons que excedem 10 milhões de elétron-volts (eV). Todo esse ataque prejudica a funcionalidade de equipamentos eletrônicos, o que obriga operadores a desligá-los. O Hubble, por exemplo, passa por lá 10 vezes por dia e se torna incapaz de coletar dados.
Tal ação é necessária porque, caso não seja realizada, pode haver falhas nos sistemas. Claro que, além de diversas consequências desastrosas, a perda financeira decorrente desses erros é altíssima, como no caso do equipamento japonês Hitomi. Sua unidade de referência inercial relatou instabilidades que não existiam e, ao tentar se recuperar de ajustes que não eram necessários, ele entrou em colapso. Cerca de US$ 273 milhões seriam economizados se ele não tivesse entrado na área que impossibilitou ajustes em tempo real.
Hitomi poderia ter sido salvo se comunicação não fosse interrompida.
Falando especificamente de vidas, astronautas da Estação Espacial Internacional relataram ter visto estranhas luzes brancas piscando diante de seus olhos, e medidas tiveram de ser tomadas para que eles fossem protegidos de radiação excessiva. Se os avisos não chegam a tempo, o resultado pode ser fatal.
Essa diferença do escudo ocorre devido ao formato da Terra, que, sendo mais “inchada” no meio, desloca o campo magnético em cerca de 500 quilômetros. Ainda que a “bolha” funcione, é muito mais fina e menos eficaz contra ventos solares. Uma vez que os polos não são fixos devido ao movimento de metais líquidos no manto terrestre, a área do Triângulo das Bermudas Espacial também é alterada – e evidências de mil anos atrás na África atestam as mudanças.
Acompanhar tudo o que ocorre é fundamental para a segurança de equipamentos espaciais e para a saúde humana. Se a radiação aumenta, os problemas também. Ainda assim, Tarduno tranquiliza: “Isso não é uma preocupação até muitos bilhões de anos no futuro. Mesmo durante tempos de reversões magnéticas, existe um campo magnético, embora muito mais fraco e muito mais complexo do que o presente”.
Astrônomos desvendam mistério do Triângulo das Bermudas Espacial via TecMundo