Saúde/bem-estar
20/07/2020 às 03:00•2 min de leitura
Publicado na revista Current Biology por pesquisadores do Museu Nacional de História Natural Smithsonian e da Universidade Duke, um estudo revelou um técnica de camuflagem inédita em 16 espécies de peixes do fundo do mar: uma pele ultranegra capaz de absorver quase 100% da luz, o que os torna invisíveis aos predadores.
Nas profundezas do oceano, onde a luz solar chega de forma quase imperceptível, algumas criaturas abissais evoluíram para desenvolver adaptações que lhes permitem enxergar, comunicar e caçar. Outros, por razões óbvias, preferem ficar "no anonimato" e, segundo os cientistas, conseguem desaparecer na escuridão.
O que mais chamou a atenção dos pesquisadores foi que o peculiar mecanismo utilizado pelos peixes em suas peles para produzir um preto "mais preto do que o preto" poderia ter grande utilidade na fabricação de materiais duráveis, flexíveis e, naturalmente, ultrapretos, com aplicação em painéis solares, telescópios, câmeras ou camuflagem.
Anoplogaster cornuta capturado pela luz que logo desaparece. (Fonte: KJOsborn/Smithsonian - Reprodução)
Uma das autoras da pesquisa, a zoóloga Karen J. Osborn revela que se interessou pelo fenômeno por acaso, quando, ao tentar fotografar alguns desses peixes ultranegros capturados numa rede, não conseguiu obter nenhuma foto, mesmo usando material profissional. O que ocorreu é que os peixes simplesmente absorveram toda a luz.
Testes posteriores feitos em laboratório revelaram que a melanina, o pigmento que protege a pele dos seres vivos da luz solar (pois pode absorver até 99,95 da radiação UV), não era apenas abundante na pele dos peixes, mas formavam "pacotes" de células constituindo uma camada contínua muito próxima da epiderme.
Esses compartimentos celulares, chamados melanosssomas, conseguem absorver a maior parte da luz direcionada a eles, mas a sua organização singular também os leva a direcionar qualquer resto de luz para os outros melanossomas dentro da célula eliminando completamente os fótons.
O ultranegro Peixe Dragão do Oceano Pacífico. (Fonte: KJOsborn/Smithsonian - Reprodução)
Osborn brinca com essa inversão de papéis em que, em vez de serem capturados pela luz, são esses peixes que a capturam. Diz ela: "Se você quiser se misturar com a escuridão infinita do seu ambiente, absorver todos os fótons que o atingirem é um ótimo caminho a percorrer".
Sobre a luta entre as peles ultranegras e a luz, a cientista reconhece: "Efetivamente, o que eles fizeram foi criar uma armadilha de luz supereficiente e superfina. A luz não se recupera; a luz não passa. Ela entra nessa camada e desaparece".