Ciência
20/07/2020 às 08:30•2 min de leitura
Assim como o exame do gelo profundo dos polos, a análise geoquímica de estalagmites e estalactites pode dar pistas sobre como era o planeta durante a última era glacial (entre 14 mil e 37 mil anos atrás), e foi esse o estudo realizado por uma equipe de pesquisadores da Universidade Vanderbilt.
A paleoclimatologista Jessica Oster desceu às profundezas das cavernas do Lago Shasta, ao norte da Califórnia, para recolher estalagmites. A região é considerada uma importante zona climática de transição entre o noroeste do Pacífico e o sudoeste dos Estados Unidos por apresentar climas diversos entre si e responder de maneira diferente às mudanças que levaram à era glacial.
Estalactites (no teto) e estalagmites (no chão) são formações que resultam da sedimentação e da cristalização de minerais dissolvidos na água, em especial o carbonato de cálcio. Podem levar milhares de anos para crescer: gotas de água provenientes da chuva na superfície atravessam a terra e se infiltram em fraturas no teto das cavernas, levando com elas minerais dissolvidos.
O estudo se concentrou nas estalagmites, que se formam quando a água com o carbonato de cálcio dissolvido pinga das estalactites para o chão (as duas terminarão por se unir, criando uma coluna).
Essas formações guardam registros precisos das mudanças climáticas que podem ser lidos através da medição dos isótopos de urânio e tório presos na estalagmite à medida que ela cresce. É possível, assim, retroceder até 500 mil anos (a datação por radiocarbono dá aos pesquisadores uma visão de, no máximo, 60 mil anos atrás).
A equipe da paleoclimatologista analisou duas estalagmites, dando especial atenção à quantidade de isótopos estáveis de oxigênio e de carbono. Os resultados encontrados mostraram que a quantidade de chuvas na região variava com as mudanças climáticas conhecidas durante e após a última era glacial, já determinadas por outros registros paleoclimáticos.
Seção de uma estalagmite cortada e polida; as datas em que cada parte se formou podem ser vistas na imagem.
As evidências das grandes e rápidas variações nas chuvas registradas nas estalagmites das cavernas do Lago Shasta mostraram que o clima ao norte da Califórnia é sensível às mudanças que acontecem em outras partes do mundo. Oster descobriu que as chuvas na região aumentavam ou diminuíam em resposta a alterações relativamente pequenas no clima global. Essa revelação veio do cruzamento das informações da análise geoquímica das estalagmites com os registros do núcleo de gelo profundo da Groenlândia.
Segundo a cientista, é plausível supor que se as mudanças climáticas na Groenlândia e no norte da Califórnia estavam relacionadas há 30 mil anos também podem estar agora, com o derretimento acelerado da camada de gelo no extremo do hemisfério norte.
"Essas descobertas nos oferecem pistas sobre o comportamento do sistema climático da região em resposta às mudanças no clima que já podem estar ocorrendo em todo o mundo. O ambiente semiárido ao redor do lago é sensível às mudanças nas chuvas, e o Shasta é o maior reservatório de água do estado. Qualquer mudança tem potencial para impactar os recursos hídricos de todo o estado da Califórnia", disse Osten.
A pesquisa, publicada na revista Quaternary Science Reviews, será unida a outras que, hoje, tentam esclarecer se e como a Terra está entrando em mais uma era glacial, prevista para acontecer a partir de 2030.
Chuva da era glacial pode dar pistas sobre as mudanças climáticas via TecMundo