Ciência
10/09/2020 às 03:00•2 min de leitura
Volta e meia, aqueles que se aventuram por lugares remotos se deparam com surpresas difíceis de se acreditar, mas Hermann Oberlechner, alpinista e campeão de esqui, conseguiu provar que seu passeio trouxe bem mais que apenas uma boa história de pescador: ele encontrou uma cabra mumificada de pelo menos 400 anos de idade, exposta pelo gelo derretido de Valle Aurina, em Tirol do Sul, nos alpes italianos, a seis horas de qualquer contato com a civilização.
Enquanto realizava sua caminhada, Oberlechner notou algo estranho na paisagem branca. "Apenas metade do corpo do animal estava exposta na neve, sem pelo algum. Eu nunca havia visto uma coisa dessas. Tirei uma foto imediatamente e a mandei para a guarda florestal. Juntos, então, alertamos o Departamento de Patrimônio Cultural", contou em entrevista ao LiveScience.
Exemplar centenário de cabra foi encontrado nos alpes italianos.
Não se trata de um fato inédito, o que não diminui a importância da descoberta. Há diversos casos de encontros do tipo em grandes altitudes, sendo que um dos mais famosos foi o de Ötzi, o Homem de Gelo, uma múmia de 5.300 anos recolhida, também, das cadeias montanhosas na Itália.
Com a novidade, a comunidade científica se mostrou empolgada e, agora, planeja utilizar o exemplar para aprender como preservar DNAs ancestrais para que testes laboratoriais sejam aprimorados. Se aparecer outro ser humano conservado, todos estarão melhor preparados para o que pode surgir.
Albert Zink, diretor do Instituto de Estudos de Múmias da Eurac Research, explica que esta é a primeira vez em que um animal preservado assim é utilizado para tal finalidade. "Nosso objetivo é usar dados científicos para desenvolver um protocolo de conservação válido mundialmente", detalha. Entretanto, para conseguir realizar o feito, foi preciso retirar a cabra do local – uma tarefa nada simples.
O Alpine Army Corps, infantaria de montanha do exército italiano, auxiliou os pesquisadores na remoção da carcaça, e, para isso, o conservacionista Marco Samadelli projetou e construiu uma caixa especial, enganchada em um helicóptero pilotado por aviadores treinados para operar na altitude de 3.200 metros.
Depois de bem-sucedidos, encaminharam-na para o laboratório de conservação da Eurac Research em Bolzano, onde a armazenaram em uma temperatura de 5 graus negativos – tudo para preservar seus tecidos e prevenir que se degradem com o calor.
Cientista criou caixa especial para preservá-la no transporte.
À medida que o clima global for se alterando, o que parece inevitável, é provável que mais exemplares acabem sendo descobertos. "Com repetidas análises aprofundadas, vamos verificar quais alterações o DNA sofre quando as condições externas mudam", finaliza Samadelli.