Artes/cultura
14/10/2020 às 03:00•2 min de leitura
Os cientistas conseguiram recriar em laboratório, pela primeira vez, os primeiros momentos de uma infecção causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Descrita num estudo publicado na revista Science na sexta-feira (9), a compreensão das primeiras etapas do processo infeccioso sempre foi muito difícil de investigar por ocorrer nas profundezas das células.
O vírus HIV causou a pior pandemia do século passado, causando a morte de 33 milhões de pessoas em todo o mundo. Ainda hoje, cerca de 38 milhões de pessoas vivem com o vírus em seus organismos. A nova pesquisa fornece uma visão mais clara da infecção e uma nova compreensão sobre o funcionamento do vírus.
A principal descoberta da pesquisa foi a respeito do capsídeo, uma camada externa que encapsula o material genético do vírus, como “uma casquinha de sorvete arredondada”, segundo um comunicado à imprensa divulgado pela Universidade de Utah. Com um microscópio eletrônico, a equipe foi capaz de visualizar todas as 240 proteínas que compõem essa camada externa.
Anteriormente, pensava-se que o papel dessa “concha”, chamada de capsídeo, era apenas proteger a sua carga viral. Mas as investigações da equipe de pesquisadores, liderados por Wesley I. Sundquist, revelaram que o capsídeo desempenha um importante papel na infecção.
Durante toda a transcrição reversa e a integração, ações consideradas como a “assinatura” da replicação do vírus, o capsídeo permanece praticamente intacto. Quando os pesquisadores usaram métodos genéticos e bioquímicos para desestabilizá-lo, o vírus não conseguiu mais se replicar com eficácia.
As descobertas desta pesquisa terão, com certeza, muitos reflexos na elaboração de novos tratamentos para a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), uma doença vitalícia que só se mantém sob controle com um regime de medicação contínua, os antirretrovirais, que têm assegurado uma vida saudável aos portadores do vírus.
Sundquist diz que a descoberta da importância do capsídeo pode explicar porque um medicamento para o HIV lançado pelo laboratório Gilead, o primeiro a atingir o capsídeo, transformou-se num potente inibidor do vírus.
Barbie Ganser-Pornillos, coautora do estudo, conclui: “Para mim, existe tanto o aspecto do conhecimento fundamental, mas também o aspecto translacional que pode nos ajudar a encontrar melhores maneiras de parar o HIV. É por isso que é uma ótima pesquisa”.