Artes/cultura
28/06/2021 às 06:30•2 min de leitura
Um estudo realizado pela Reserva Biológica de Una, no estado da Bahia, indicou que ambientes de alta pressão e impactados pelo risco da caça predatória afetam significativamente o comportamento do macaco-prego-do-peito-amarelo (Sapajus xanthosternos), podendo afastar os animais dos locais onde se concentram as maiores disponibilidades de alimento.
O estudo, que contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de S. Paulo (FAPESP) e foi publicado no American Journal of Primatology, coletou dados de 32 e 37 indivíduos em um "um mosaico de habitats", que incluiu as vegetações floresta madura, floresta secundária e um sistema agroflorestal conhecido como cabruca, responsável por manejar culturas à sombra das árvores nativas da Mata Atlântica. Os animais foram observados por três meses com o auxílio de uma unidade GPS e entregaram dados de alimentação, repouso, passeios, interação com outros macacos e vigilância.
(Fonte: USP / Reprodução)
Os cenários em que os primatas foram colocados contaram com uma grande densidade de perigos e armadilhas, além de chamadas de alarme regulares que funcionaram como a base para a percepção do risco e para as mudanças em seus comportamentos. A partir de então, cada ambiente fornecia uma certa quantidade de recursos e, ao mesmo tempo, entregava condições para criar mentalidades de pressão de caça, pressão de predadores terrestres ou aéreos, vigilância e silêncio, resultando na chamada "paisagem do medo".
Ao desenvolver as condições necessárias para o receio, os pesquisadores observaram que a existência de ameaças em regiões específicas dos cenários afastavam os espécimes de macaco-prego-do-peito-amarelo, mesmo que o local fosse marcado pela predominância de alimentos que faziam parte de seu nicho. Com o risco de predação, esses animais tornaram-se mais atentos e precavidos, passando menos tempo em certos lugares e buscando alternativas menos perigosas, porém não necessariamente com suprimentos suficientes para suas dietas.
"A caça furtiva tem um grande efeito negativo. Unidades de conservação foram criadas há muitos anos, e essa é uma política louvável, mas nossos achados apontam para a importância da vigilância adequada para cuidar bem delas", comentou Patrícia Izar, principal autora da pesquisa. "Também é importante educar o público, dada a existência de caça recreativa, bem como da caça ilegal, que é tanto oportunista para a alimentação quanto sistematicamente para o tráfico de animais."