Artes/cultura
11/07/2021 às 09:00•2 min de leitura
Bem no início do século XIX, em Londres, contrair alguma doença poderia ser uma experiência extremamente invasiva e mortal, porque as pessoas, com frequência, não conseguiam ser submetidas a tratamentos eficazes. Desse modo, para evitar a proliferação de doenças, o município tinha o direito legal de entrar na casa de uma pessoa infectada e desinfetá-la de cima a baixo, desde a mobília até as roupas.
Nesse sentido, a Estação de Desinfecção de Hackney foi criada em 1899 como uma forma de manter a população saudável e protegida das doenças que assolavam o bairro, como varíola, difteria, escarlatina, sarampo e tosse convulsa.
Só em 1899, cerca de 116 moradores de Hackney morreram de sarampo, 47 crianças sucumbiram à coqueluche e mais 252 perderam suas vidas para a difteria. O índice de mortalidade infantil da época era de 165 para cada mil nascidos vivos.
(Fonte: My Droll/Reprodução)
Em 1892, quando um comitê sanitário municipal alegou que a estação de desinfecção de Hackney era "ineficiente para as exigências do distrito" devido ao seu tamanho inicial modesto, John King Warry, médico oficial de saúde de Hackney, apressou-se e fez uma campanha para a criação de uma estação de última geração — que incluiria até acomodações para as pessoas durante as inspeções.
Amparado por uma nova legislação nacional que permitia à sua equipe gastar o que quisesse para limpar pessoas e residências "infestadas de vermes", Warry construiu um complexo de três edifícios que custou cerca de 1,25 milhões de euros, com direito a caldeiras, lavanderias, galpões, bem como salas de passar e secar.
(Fonte: Breakin News/Reprodução)
As pessoas infectadas e seus pertences entravam por um lado da estação, passavam pelo processo de desinfecção a vapor e saíam pelo outro lado. Muitas recebiam intensos banhos de enxofre para tratar sarna e outras doenças.
“Muitas autoridades de saúde, além de terem hospitais de isolamento, expressaram o desejo de construir essas estações de desinfecção para erradicar germes, bactérias e outros tipos de agente contagioso”, disse Graham Mooney, historiador de Medicina na Universidade Johns Hopkins.
(Fonte: The Smithsonian/Reprodução)
Em 1902, após um ano inteiro de operação, a estação de Hackney havia fumigado 2.838 quartos, dos quais 1.009 tiveram as paredes lavadas com uma solução carbólica. No mesmo ano, segundo o relatório anual do Departamento de Saúde de Hackney, mais de 24.226 móveis, roupas de cama e vestes foram desinfetados na estação.
A partir da década de 1930, com o surgimento de vacinas e antibióticos que combatiam de maneira eficaz as doenças infecciosas, o complexo passou a abrigar moradores sem-teto para a limpeza das favelas.
Trinta anos mais tarde, a estação foi destinada à desinfecção de livros, para prevenir surtos de doenças entre as famílias, e também de roupas usadas antes de serem exportadas para outros países.
O centro de desinfecção de Hackney foi desativado definitivamente em meados de 1984.