Mistérios
12/06/2022 às 09:00•2 min de leitura
Os peixes-elétricos, a exemplo da enguia-elétrica, fazem parte do grupo de animais que continuam a intrigar cientistas graças as suas peculiaridades. Já sabíamos, há algum tempo, que os órgãos elétricos desenvolvidos por essa categoria de peixes eram fundamentais para a comunicação desses animais, tal como o canto é para os pássaros.
Essa habilidade, também os ajuda a reconhecer outros peixes-elétricos por espécie, gênero e, acredite, até mesmo um indivíduo específico.
(Fonte: Mary Swartz/Johann Eberhart/UT Austin/ Reprodução)
A questão é que até agora os cientistas não faziam a mínima ideia de como algumas espécies de peixes evoluíram para ter órgãos elétricos. Mas um novo estudo conduzido por pesquisadores da Universidade do Texas (Austin) e da Michigan State University, ambas nos EUA, trouxe algo surpreendente: a resposta pode estar nos genes!
O estudo foi publicado na Science Advances e também poderá ajudar a ciência a entender algumas mutações genéticas causadoras de doenças nos seres humanos, entre outras implicações positivas para a saúde.
De acordo com essa pesquisa, é graças a uma particularidade genética que alguns peixes conseguiram desenvolver órgãos elétricos. O grupo dos peixes-elétricos possuem duas cópias de um mesmo gene, que criam canais de sódio e funcionam como pequenos motores musculares.
Poraquê (Electrophorus electricus). (Fonte: Wikipedia/Reprodução)
O organismo desses peixes começou a aproveitar essa mutação e passou a reaproveitar parte dos minúsculos motores de proteínas que, normalmente, tem a função de fazer os músculos se contraírem para gerar sinais de eletricidade em um novo órgão.
Para o professor de neurociência e biologia integrativa da Universidade do Texas, Harold Zakon, um dos responsáveis pela pesquisa, isso deixa claro que até uma mínima mudança no comportamento dos genes pode alterar completamente a sua forma e o lugar no corpo onde ele é expresso.
Os pesquisadores descobriram que no gene do canal de sódio dos peixes-elétricos existe uma pequena seção de DNA responsável por controlar se o gene propriamente dito pode ser expresso em qualquer célula.
Os estudos apontaram que nos peixes-elétricos essa parte responsável por controlar a expressão genética está totalmente ausente ou sofreu alguma mutação.
Um dos aspectos mais interessantes dessas descobertas é que elas não se limitam apenas aos peixes. A região citada também está presente na maioria dos animais vertebrados, incluindo os seres humanos.
Para a ciência, ainda é muito complicado estudar as particularidades dos canais de proteínas e sódio (também conhecidos como canais iônicos) nos humanos e em outros vertebrados. Daí a importância do que foi descoberto nos peixes-elétricos.
(Fonte: Animais.Wiki/ Reprodução).
Segundo Zakon, estudar essa seção de controle nos genes humanos deve ser o próximo passo em termos de saúde.
Afinal, é preciso saber quantas alterações, variações e até remoções essa área pode sofrer para haver uma expressão reduzida nos canais de sódio, o que poderia causar doenças nas pessoas.
Para se ter ideia da relevância dessa pesquisa que começou nos peixes, mas vai ajudar os humanos, basta considerar que existem diversas condições, como a epilepsia, que podem ter suas causas enraizadas em desvios e mutações nos canais de sódio e proteínas do nosso organismo.
Os peixes se deram bem, já que ficaram elétricos. Em nosso caso, adoecemos.