Ciência
17/06/2022 às 04:00•2 min de leitura
Se você é dono de um animal de estimação, é bem provável que já tenha ficado enojado ao ver seu pet simplesmente começar a comer o próprio cocô logo depois de ter defecado. Afinal, não parece nem um pouco natural que isso faça parte da dieta de alguém e, certamente, isso não é algo bem visto entre os seres humanos.
No entanto, isso é algo muito mais comum do que você imagina e é um hábito que aparece entre diversas espécies na natureza. Se para nós esse ato é apenas nojento, para essas criaturas é uma maneira de acessar nutrientes que elas não conseguiram digerir da primeira vez. Entenda mais sobre esse processo nos próximos parágrafos!
(Fonte: Shutterstock)
Cientificamente, o ato de comer as próprias fezes é chamado de coprofagia. Esse é um hábito regular entre lagomorfos (coelhos e lebres), roedores (camundongos, ratos, hamsters e chinchilas), cães, bebês elefantes, hipopótamos, primatas não humanos e por aí vai.
Comer excremento é uma parte natural e essencial da dieta de um coelho, uma vez que essas criaturas são fermentadores do intestino posterior. Isso significa que, depois que o alimento passa pelo estômago e pelo intestino delgado desses animais, ele passa pelo intestino grosso e é fermentado por bactérias — quebrando o material vegetal resistente.
Especificamente nos coelhos, a absorção desses nutrientes ocorre muito cedo no processo da digestão, impedindo que o processo seja feito por completo. Para contornar essa situação, esses animais realizam as chamadas "fezes noturnas", que são ricas em nutrientes e consumidas para passar por uma segunda digestão.
Inclusive, coelhos que param de se alimentar regularmente ou se recusam a comer suas fezes noturnas normalmente não estão se sentindo bem e precisam ser levados ao veterinário.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Para os filhotes de diversas espécies no reino animal, comer fezes de suas mães ou companheiros de rebanho faz parte do processo de transição entre se alimentar do leite materno e consumir alimentos sólidos. Ao ingerir a matéria fecal, esses animais estabelecem um microbioma saudável em seus intestinos.
Entre os herbívoros, o consumo de cocô também serve muito para fornecer os nutrientes e minerais que não conseguem obter apenas com a alimentação comum — uma vez que encontrar comida na natureza nem sempre é fácil. Além disso, os animais que normalmente praticam coprofagia geralmente não ficam doentes, a menos que o material fecal esteja carregado de algum patógeno.
Dessa forma, podemos considerar que as verdadeiras aberrações na natureza somos nós mesmos, visto que até mesmo nossos parentes próximos possuem o hábito da coprofagia. Como os seres humanos estabeleceram fontes sólidas de alimento e de obtenção dos nutrientes para a nossa subsistência, comer fezes não é algo perto de ser necessário em nossas rotinas.
Por isso, da próxima vez que você ver algum outro animal comendo cocô, procure não julgá-lo!