Artes/cultura
04/10/2022 às 10:00•2 min de leitura
No livro Somos inteligentes o bastante para saber quão inteligentes são os animais?, o biólogo holandês Frans de Waal descreve uma série de comportamentos para discutir a inteligência de diferentes animais. De primatas a insetos, ele explica algumas atitudes que parecem típicas de humanos, mas são mais comuns do que podemos imaginar no reino animal.
Porém, uma espécie que não ganhou destaque nas páginas do livro são os guaxinins. Esses parentes dos nossos quatis, que são vistos com frequências em cidades da América do Norte e em algumas reservas, parecem simpáticos e têm um olhar de quem está prestes a aprontar alguma coisa. Mas, além disso tudo, eles podem ser muito mais inteligentes do que imaginamos.
Entre 2015 e 2019, Lauren Stanton da Universidade da Califórnia estudou dezenas de guaxinins em busca de traços de personalidade e, mais tarde, de cognição. A pesquisa começou com a captura de alguns animais, marcados e acompanhados por radiofrequência.
Entre 2018 e 2019, teve início a parte dos testes cognitivos. Stanton utilizou uma caixa de Skinner para avaliar a reação dos guaxinins para conseguir comida. A caixa de Skinner é um teste para descrever e tentar prever o comportamento de animais. Stanton utilizou uma na qual os guaxinins podiam obter comida simplesmente se aproximando dela ou aprendendo a operá-la e pressionando o botão correto.
A conclusão que Stanton chegou com o experimento é que há uma correlação entre guaxinins com traços dóceis e guaxinins que aprenderam a operar a caixa com sucesso. Esse resultado permitiu a pesquisadora concluir que os guaxinins são capazes de observar e aprender com os humanos. Isso é importante tanto para determinar situações mais ou menos perigosas, como para ter mais sucesso na hora de procurar alimentos.
Nas últimas décadas, guaxinins e outros animais foram forçados a dividir espaço com os humanos. Os estudos de Stanton são o ponto de partida para entender como esses animais se adaptaram às mudanças impostas com a perda de território e com uma nova oferta de alimentos.
Stanton percebeu que os guaxinins que eram mais agressivos também eram mais ativos e exploravam mais os ambientes, enquanto os mais dóceis eram mais propensos a ficar em um mesmo lugar por um longo período de tempo. Como Stanton verificou que os mais mansos também eram mais propensos a aprender a operar a caixa de Skinner, isso indica que eles têm mais facilidade para entender e manipular os ambientes.
Alguns pesquisadores chamam isso de “fenótipos cognitivos reativos”. São habilidades que alguns animais desenvolvem ao perceber que ser dócil e menos reativo com os humanos pode trazer vantagens. Um guaxinim agressivo que foge à primeira vista de uma pessoa nunca aprenderá que, se tivesse ficado por perto, teria sido recompensado com cachorros-quentes.